Setor tem características distintas da grande massa empresarial/industrial e por isso, na hora de tentar recursos, encontra barreiras
POR: Engenharia de Comunicação
Imagine que sua empresa precisa de dinheiro para ampliar ou investir em um novo nicho, por exemplo. Se você decide recorrer a uma cooperativa de crédito ou a um banco, precisará preencher uma papelada, comprovar algumas situações e dar algo como garantia: se não quitar o que deve no período acordado, a instituição recolhe um bem/imóvel/frota seu como pagamento. Mas, o que fazer quando sua empresa é do ramo de tecnologia da informação (TI) e como tal dispõe de poucos ou nenhum bem, imóveis ou carros?
Acessar linhas de crédito é um dos desafios dos empresários do setor e foi sobre isso, com boas doses de otimismo, que o bate-papo promovido pela Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro-PR) tratou em um evento realizado de maneira remota, conduzido pelo presidente da entidade, Lucas Ribeiro. Compartilharam suas experiências e trouxeram luz sobre o assunto, Renan Schaefer, da a55, e Antonio Claudio Demeterco, sócio-fundador do escritório De Figueiredo Demeterco & Sade Sociedade de Advogados e diretor adjunto de M&A em Tecnologia da Assespro-PR. Ambas as empresas são associadas à entidade.
“Precisamos de capital para desenvolver as empresas e esse pode vir através de fundo de investimento, de linhas de crédito, de investidor-anjo, etc. O fato é que se não tivermos recursos para contratar gente boa, desenvolver solução e um bom marketing, tudo isso se torna impossível”, disse Ribeiro, conduzindo o bate-papo com perguntas e tópicos.
Para Demeterco, cada negócio é específico e é importante que, antes de qualquer decisão, todos os interessados estejam assegurados juridicamente e entendam seu propósito e papel na negociação. A regra vale para todos os ramos e, também, para as empresas de TI.
Sobre o acesso ao crédito, Renan, que atua na primeira fintech do país especializada em empréstimo para empresas da nova economia, destaca que as formas tradicionais, de fato, engessam a liberação. Mas, há alternativas. A própria a55, por exemplo, já desembolsou mais de R$ 150 milhões que aceleram 150 empresas brasileiras e mexicanas. “A gente tem visto, via mercado de capitais, empresas criando formas alternativas de conseguir crédito. Hoje em dia, para o setor de TI, é mais difícil para conseguir uma operação de crédito”, confirmou, atribuindo o fato à dificuldade em comprovar que a devolução do valor emprestado vai acontecer. “Em tecnologia é diferente, porque não se sabe quanto o produto final vai gerar. Entram a precificação, que muda por conta de concorrentes, e os ajustes ao longo do caminho. Tudo isso torna muito mais difícil a avaliação de risco”, completou o presidente da Assespro-PR.
Deixar a empresa em dia, CNPJ com no mínimo seis meses e uma contabilidade e gestão financeira organizadas são algumas das recomendações dos convidados do bate-papo. Na prática, tudo isso faz diferença e pode garantir a liberação dos recursos, inclusive nos bancos mais convencionais. “Agora, se a pessoa vai pedir crédito num banco, mas não tem nada, nem um balanço, nada, fica complicado”, orienta Renan. “La garantia soy yo, não cola mais”, brinca.
O avanço da própria tecnologia torna possível o acesso das empresas do ramo. É um caminho que ainda está se desenhando, mas já tem cases de sucesso. Há cooperativas que liberam aportes baseando-se em dados – e não mais em quantidade de terras, frotas, imóveis ou máquinas. “Mesmo que as empresas não tenham tanta organização, os dados quebram barreiras para a gente divulgar o crédito cada vez mais”, afirma Renan. Modelos americanos – e que já vêm chegando ao Brasil – concedem crédito amparados apenas pela receita minimamente previsível, ou seja, basta organizar a empresa e entender o quanto será necessário.
Sociedade
E se a empresa cresceu? E se você decide ter sócios? Com décadas de expertise na área jurídica, Claudio Demeterco, ao esclarecer o que Ribeiro chamou de “sopa de letrinhas”, uma pausa para a leitura de termos como M&A, fusão, incorporação, cash in, ressalta a importância de entender bem como serão dados os passos seguintes. “O interessante é pensar no formato jurídico, nessa arquitetura, para que atenda a um real propósito das partes interessadas. Nesses movimentos, existem diversos tipos de mecanismos jurídicos para atender aos propósitos”, disse.
Clareza e entendimento precisam ser aliados, especialmente no momento de redação e assinatura de um contrato de negócios. “[O contrato] não precisa vir com um manual de instrução ou com um relatório de perguntas. Ele tem que ser claro. Quando os sócios estão bem, isso não importa muito. Mas, se brigam ou rompem, será crucial, afirma. “Quem tem sócio, costumo dizer, tem patrão.”
Dívida
O endividamento clássico é outro porém. Por medo de não darem conta de pagar o empréstimo, empresários recuam e tocam a empresa sozinhos, ou quase. Ribeiro ressaltou que isso é louvável, no entanto, também lembrou que gigantes como a Amazon e o Google têm grandes dívidas, necessária para alavancagem do crescimento exponencial. A dívida em si, não torna uma empresa menos atrativa para fundos e investidores, desde que ela seja capaz de gerar mais caixa e ganhos em médio prazo, avalia o presidente da Assespro-PR.