Uma boa noite de sono é fundamental para levar uma vida saudável, porém, ela não é realidade para quatro de cada dez pessoas no mundo
*Por Alexandre Annibale*
Não é novidade para ninguém que uma boa noite de sono é um dos principais fatores para preservar a saúde e, claro, começar bem o dia. Entretanto, dormir de forma saudável não é a realidade para quatro a cada dez pessoas no mundo. De acordo com dados recentes divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 40% da população global sofre com distúrbios do sono. Se for considerado o fato de que o ser humano passa, aproximadamente, um terço de toda a vida dormindo, o número se mostra ainda mais preocupante. Em outras palavras, as pessoas que sofrem com distúrbios do sono são prejudicadas por esses problemas em uma parcela considerável de suas vidas.
Dormir bem é crucial para restaurar o corpo e a mente, afinal, um descanso saudável é responsável por viabilizar o equilíbrio da produção hormonal, fortalecer o sistema imunológico, reparar danos inflamatórios, além de oferecer maior capacidade de concentração, atenção e de fixação da memória adquirida. Não bastassem os prejuízos que são agravados a médio e longo prazo pelos distúrbios do sono, eles também trazem complicações bem diretas à vida. Entre alguns dos problemas que as pessoas enfrentam durante o descanso (ou falta dele), destacam-se a apneia obstrutiva do sono, a insônia e o bruxismo.
A apneia obstrutiva é caracterizada pelo bloqueio da passagem de ar repetidas vezes por, no mínimo, dez segundos durante o sono. O problema muitas vezes não é percebido pelo próprio paciente e pelos familiares. Uma das principais manifestações desse distúrbio é o ronco, ainda que os sinais desse mal possam aparecer também durante o dia, perceptíveis por causa de sonolência e cansaço excessivos, irritabilidade, dores de cabeça, perda de libido, e até prejuízos à memória.
Enquanto a pessoa que sofre de apneia obstrutiva enfrenta o distúrbio enquanto está com os olhos fechados, os indivíduos que foram acometidos pela insônia nem conseguem cerrar as pálpebras. O distúrbio, que também se manifesta pela incapacidade de permanecer dormindo, pode ser diretamente responsável por causar alterações consideráveis de humor e, ainda, se relaciona ao aumento de doenças cardiovasculares e distúrbios psiquiátricos.
O bruxismo, por sua vez, é outro fator causador de prejuízos ao corpo, especialmente para os dentes. Ele é caracterizado pelo apertar ou ranger da dentição — que também pode ocorrer durante o dia. A pressão ou fricção gera desgaste dentário, o que pode gerar quebras de dente e, ainda, causar dores musculares na ATM (articulação responsável por unir a mandíbula ao crânio).
Diferentes especialistas da saúde alertam para a necessidade de as pessoas buscarem auxílio profissional para diagnosticar e, claro, tratar os problemas relacionados ao sono. A OMS definiu o dia 18 de março, inclusive, como o Dia Mundial do Sono, com o intuito de alertar sobre a importância do repouso saudável na qualidade de vida. Um dos principais métodos utilizados para diagnosticar esses distúrbios é a polissonografia, exame não invasivo que mede a atividade respiratória, muscular e cerebral durante o repouso. Além disso, os problemas podem ser diagnosticados por meio de questionários específicos e multidisciplinares, de acordo com cada indivíduo e desconforto notificado pelo paciente. No caso do bruxismo, o problema é contornado com o auxílio de profissionais da ortodontia, que apresentarão soluções por meio de técnicas e utilização de materiais nos dentes, caso necessário.
No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) divulgada em 2020 mostrou que 65% dos brasileiros têm baixa qualidade de sono. O número merece destaque, especialmente em um contexto atual que divide a atenção dos brasileiros entre diversos outros problemas relacionados à saúde. O ato de dormir bem não deve ser encarado com relatividade, seja pelas autoridades competentes ou pelas próprias pessoas. O sono começa a ser preparado desde que o indivíduo acorda, dormir bem é tão importante quanto comer de forma equilibrada e praticar atividades físicas. O bom sono é, antes de tudo, um ato de saúde.
*Alexandre Annibale é cirurgião dentista, especialista em ortodontia e capacitado em odontologia do sono.