POR: Grupo Casa
Não é sempre que nos conscientizamos sobre a força do interesse pessoal e suas consequências sobre indivíduos, grupos e organizações. Interesses pessoais são acionados por razões conscientes ou inconscientes, levando a vontade individual a se sobrepor a qualquer forma de entendimento lógico ou normalmente aceito pelas convenções que regem a nossa sociedade e seus mais diversos agentes como, por exemplo, as empresas.
Estamos no momento assistindo a atos grosseiros e nefastos por parte do Presidente da República, Jair Bolsonaro, impulsionados por seu interesse pessoal em relação ao que está acontecendo na Petrobrás.
A petrolífera vem há anos alcançando importantes resultados econômico- financeiros e, para protegê-la da interferência estatal em sua administração, a legislação para as empresas de capital misto foi modificada e fortalecida pelo governo anterior. A governança corporativa teve suas regras modificadas, fazendo com que barreiras contra a corrupção, nomeação políticas de gestores e outros malefícios fossem instauradas.
O interesse pessoal não enxerga o longo prazo. Seus atos podem ser desencadeados por razões emocionais ou de momento.
Por exemplo, estamos no presente momento, acompanhando as notícias da Petrobrás onde a política de precificação dos preços dos combustíveis estabelecida pela estatal, vem incomodando a Presidência da República pois isso é lido como um fator que pode reduzir as chances de reeleição.
Assim o chefe do poder executivo busca interferir de todo e qualquer modo na governança da Petrobrás, para criar o ambiente necessário para que seus intentos sejam alcançados. Desta feita, novas regras estão para ser aprovadas no que tange à nomeação de diretores, presidente, conselheiros, inclusive políticas internas em relação à fixação de preços de combustíveis ao consumidor final. Em resumo, na tentativa de se manter e ampliar a popularidade do Presidente da República manobras das mais indignas são efetivadas e aplaudidas por quem enxerga a gestão de uma forma estrábica.
As ideias a serem colocadas em prática e a divulgação delas no sentido de trazer benefícios a curto prazo são ofuscadas pelos malefícios de médio e longo prazos. Apenas para citar alguns exemplos teremos provavelmente a queda da rentabilidade da empresa. Com isso, seu poder de investimento em produção, produtividade e conhecimento tecnológico será afetado.
A interferência do governo em empresas de capital misto, abala a confiabilidade dos mercados financeiros em relação a elas, podendo arranhar a imagem e reputação do governo brasileiro nos mercados internacionais. Como consequência o direcionamento de recursos e investimentos para o país pode se restringir. A eventual possibilidade de se poder nomear para elevados cargos de responsabilidade das empresas estatais, políticos aliados ao presidente sem a devida formação técnica e profissional é muito negativa. Certamente escândalos dos mais diversos aflorarão para a superfície das salas de reunião das empresas. A médio e longo prazos quem sairá perdendo será a nação e seu povo. A curto prazo talvez a redução do preço do litro pode vir a beneficiar muitos, mas certamente gerará prejuízos que se farão sentir ao longo do tempo. O grande perdedor em todo caso será a governança corporativa da Petrobrás, que será apenas usada como joguete dos interesses pessoais de quem ocupa a Presidencia do País hoje , o que é uma grande pena.
Mas estamos enganados ao pensar que apenas a Petrobrás e o séquito das empresas mistas são vulneráveis a interesses pessoais. O mesmo quadro pode ocorrer com empresas do setor privado. Já assistimos casos, de empresas familiares com estruturas de governança bem alicerçadas, que por atos voluntariosos de seus acionistas as derrubaram. Interesses pessoais dos acionistas, problemas financeiros particulares ou até complicações familiares podem levar à derrubada do arcabouço da governança empresarial. Acordos societários são alterados, protocolos familiares modificados ou simplesmente ignorados, regras de distribuição de resultados mexidos. Mais uma vez estamos diante de um momento onde o principal sócio da empresa olha para o seu interesse pessoal e imediato, deixando em segundo plano o futuro da empresa da família. Como consequência poderemos ter problemas de continuidade dos negócios, falta de credibilidade e interesse por parte dos demais sócios e futuros herdeiros.
Não podemos deixar que impulsos de qualquer natureza, muitas vezes alheios aos próprios negócios, nos levem a ser instrumentos de vontades pessoais de suas lideranças, sejam elas do setor público ou privado.
Thomas Lanz é fundador da Lanz Consultores Associados. Presidiu a Carbex Indústrias Reunidas e a Giroflex SA. Teve importantes cargos de gestão na Mangels Industrial e Lafer Industria e Comercio. É conselheiro de administração certificado pelo IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), participando de conselhos tanto de empresas nacionais como estrangeiras. Formado em economia pela PUC – São Paulo e mestre em administração de empresas pelo INSEAD – França. É certificado pelo FFI (Family Firm Institute) de Boston – EUA. Tem inúmeros artigos publicados e foi co – autor dos livros Aspectos Relevantes da Empresa Familiar e Empresas Familiares – Uma Visão Interdisciplinar publicados pela Editora Saraiva e Editora Noeses respectivamente.