*Por Bart De Muynck
Na área de logística é habitual o uso do termo “cadeia de suprimentos”, ou supply chain, em inglês. O curioso é que a palavra chain pode ser traduzida também como “corrente”, mas poucas coisas lembraram a continuidade, a segurança e a robustez de uma sequência de elos unidos quando analisamos o cenário da movimentação e armazenagem de produtos nos últimos anos. Parece que andamos numa vertiginosa montanha-russa.
Com a pandemia global, o Brexit, a guerra na Ucrânia, greves trabalhistas nos principais portos europeus, secas e o aumento implacável dos preços dos combustíveis, os profissionais da cadeia de suprimentos passaram por mergulhos inesperados e curvas bastante acentuadas, que os forçaram a se agarrar com muita firmeza aos corrimãos.
Agora, frente a alguns sinais moderados de recuperação – como preços de fretes spot mais baixos e maior capacidade disponível nas transportadoras e nos demais provedores de serviços logísticos – parece que as coisas estão começando a se normalizar. No entanto, há uma nova realidade que os profissionais da cadeia de suprimentos precisam aceitar: os desafios são uma constante neste setor, não uma exceção.
Alguns obstáculos dos últimos anos estão (felizmente) no espelho retrovisor, mas isso não indica necessariamente uma navegação tranquila daqui em diante. Existem inúmeras outras possíveis interrupções na cadeia de suprimentos para as quais os profissionais devem estar preparados.
Entre elas estão os regulamentos novos e aqueles que devem passar por mudanças para incluir medidas para reduzir as emissões de CO2 de Escopo 3 (emissões indiretas que abrangem operações de transporte e distribuição) – a exemplo das novas normativas da Organização Marítima Internacional (IMO).
Há uma ênfase crescente e importante de ESG (governança ambiental, social e corporativa) que tende a impactar cada vez mais a cadeia de suprimentos, de modo a ampliar sua sustentabilidade. Veja-se a Lei Europeia da Cadeia de Suprimentos, que exige que os expedidores realizem o gerenciamento dos impactos sociais e ambientais de suas atividades, com o objetivo de criar uma economia global que apoie melhor os direitos humanos e a saúde do planeta.
É indubitável que essas medidas respondem a causas urgentes, mas elas estabelecem, também, mais complexidade para os profissionais dos departamentos de logística, principalmente quando se trata de gerenciar adequadamente capacidades.
Infelizmente, também devemos incluir os eventos climáticos extremos na lista. A cadeia de suprimentos não é estranha a condições climáticas extremas – incluindo secas generalizadas, com um calor sem precedentes em regiões da Europa e que favorecem incêndios florestais como os que estão em curso no Canadá, e níveis de água historicamente baixos, como os que estão sendo registrados no Canal do Panamá.
Alguns cientistas acreditam que esses tipos de eventos climáticos extremos continuarão a aumentar em frequência e gravidade. Logo, os profissionais que trabalham com transportes de cargas precisam se preparar para a tempestade – literal e figurativamente.
É verdade que a guerra na Ucrânia já teve um grande impacto no fluxo de petróleo, gás e outras commodities, mas não é o único fator geopolítico que merece atenção e preocupação. A China continua a lidar com a instabilidade política e econômica. E a situação do maior país exportador e fornecedor do mundo traz desafios que não podem ficar de fora do radar dos profissionais da cadeia de suprimentos.
Embora os últimos anos tenham sido repletos de incertezas e desafios, assim como os próximos muito provavelmente serão, os profissionais de supply chain não estão de braços cruzados, assistindo a desdobramentos das circunstâncias. Muitos tomaram medidas proativas para lidar com mudanças constantes.
Por exemplo, algumas empresas aumentaram o estoque de segurança para neutralizar o fornecimento incerto. No entanto, isso pode deixá-los presos com excesso de estoque, e em uma situação complicada em relação ao fluxo de caixa. Outras optaram pelo nearshoring, trazendo mais processos de fabricação e montagem para perto de suas regiões, o que evita grandes volumes vindos do oceano. Isso significará o uso adicional de hidrovias interiores e costeiras para movimentação, além de ferrovias e rodovias.
Esses tipos de esforços podem ajudar, mas, em última análise, enfrentar os desafios atuais e futuros começa com a obtenção e a boa utilização de dados. As empresas precisam ter visibilidade imediata e fácil do que está acontecendo em toda a cadeia de suprimentos, e precisam ser capazes não apenas de coletar os dados, mas também de processá-los e aplicá-los para determinar as próximas etapas e desviar de gargalos, aumentando a eficiência operacional.
No novo normal, marcado pela anormalidade, a informação é a melhor aliada para as empresas evitarem quebras das correntes que mantém a continuidade dos seus negócios.
*Bart De Muynck é Chief Industry Officer da project44. Tem mais de 25 anos de experiência nos setores de Logística e Tecnologia, incluindo passagens por empresas como EY, GE e PepsiCo e quase oito anos de atuação como vice-presidente de Pesquisas do Gartner.
POR: 2PRÓ Comunicação