POR: latamintersectpr
* Os compromissos de altas taxas de juros da América Latina contrastam com os da Europa e dos EUA, criando enormes oportunidades de trading
* A opção chamada ‘carry trade’ foi reforçada pela força das moedas latino-americanas no início do ano e — mais recentemente — pela queda acelerada do euro
A aversão coletiva da América Latina à inflação em comparação com suas contrapartes americanas e europeias criou uma enorme oportunidade comercial para os investidores regionais, de acordo com análise da plataforma global de trading INFINOX.
A fonte dessa oportunidade são as políticas inflexíveis de taxas de juros aplicadas sem exceção em toda a América Latina para mitigar as pressões inflacionárias; políticas que contrastam com as dos EUA e da Europa, onde as taxas permanecem próximas de zero. Essa diferença criou uma enorme oportunidade de arbitragem – com fundos sendo transferidos (‘transportados’) de moedas de juros zero para moedas de maior rendimento – uma tendência que foi reforçada pela força relativa das moedas latino-americanas durante a primeira parte do ano.
Durante o primeiro trimestre do ano, por exemplo, as principais moedas da América Latina registraram altas significativas, incluindo o real brasileiro (alta de 17,3% desde 1º de janeiro em relação ao dólar), o peso chileno (9,49%), o peso colombiano ( 8,25%) e o Sol peruano (7,34%).
Segundo Richard Perry, analista de mercado da INFINOX, o carry trade pode gerar lucro por meio desses dois fatores, ganhos cambiais e diferenciais de juros.
“Moedas latino-americanas, como o real brasileiro ou o peso colombiano, se fortaleceram significativamente em relação ao euro durante os primeiros quatro meses de 2022. Embora os ganhos tenham se tornado menos confiáveis nos últimos meses, os diferenciais de juros oferecidos nessas regiões em comparação com os oferecidos nos EUA e na Europa permanecem significativos e um importante gerador de lucro como parte do carry trade”, explicou Richard.
Segundo dados divulgados pela Bloomberg, a prática de investir em moedas de mercados emergentes com euros emprestados vem gerando até 29% este ano, em grande parte devido à recente queda do euro para níveis historicamente baixos em relação às moedas de mercados emergentes.
Richard continua explicando que os efeitos da inflação na América Latina a partir do final do século passado deixaram um impacto profundo em todas as camadas da sociedade; taxas de juros extremamente agressivas para mitigar seu impacto são muito mais palatáveis e politicamente convenientes do que nos chamados mercados desenvolvidos, como os EUA e a Europa.
“Os bancos centrais da América Latina subiram agressivamente ao longo de 2022 na luta contra os surpreendentes níveis de inflação. O Banco Central do Brasil, por exemplo, aumentou sua taxa de juros Selic acima de 13%, lutando contra uma taxa de inflação atualmente em torno de 12%. Com mais uma alta em julho, crescem as perspectivas de que a taxa Selic atinja 14% em 2022”, diz.
“Em contraste, o Banco Central Europeu é muito mais conservador em sua abordagem de política monetária e pode ter dificuldades para aumentar as taxas além de 1,0%. Isso deixa o euro como o principal candidato a ser usado em um carry trade com o real brasileiro nos próximos meses”, conclui Richard.