POR: Soraya Simón
“A medicina se desloca sobre o dorso de Pégasus, em certos momentos ela cavalga e outros ela voa, mas sempre direcionando-se em direção a busca do prolongamento e melhoria das condições de vida”. Ao longo do último século a medicina simplesmente alçou voo em direção ao infinito. Dando saltos quânticos na sua capacidade de atender, diagnosticar, curar e por consequência prolongar a vida humana.
No início do século 20 a medicina era algo cercada de uma mística espectral, dedicada em quase sua totalidade aos abastados e/ou a procedimentos pouco funcionais. Logicamente isso ocorria em uma área sem relacionamento com a tecnologia, que por sinal era inexistente em todos os segmentos e áreas daquela sociedade.
Vejamos… Das Grandes Guerras Mundiais recebemos como legado uma medicina capaz de atender a volumes gigantes de enfermos simultaneamente, inúmeras e sucessivas pandemias geraram procedimentos cientificamente elaborados para atendimento massivo em divergentes regiões geográficas. Sucessivos eventos migratórios transportaram ciclos endêmicos aos diversos continentes mudando nossa sociedade em escala global.
Todos estes eventos acima mencionados aconteceram em um ciclo de cinquenta anos e mudaram rapidamente as relações interdisciplinares entre Medicina, Tecnologia, Ciência básica, Pesquisa direcionada, Comércio globalizado, Padronização dos procedimentos medicamentares e a inserção do trâmite corporativo em todos os segmentos da medicina. Substancializando, assim, o surgimento da maior indústria do planeta que é a Indústria de Suporte a Vida.
Com os computadores que duplicam seu poder de processamento a cada geração; Diagnóstico por imagem; Análise procedural por comparação; Super Bancos de Dados e a globalização do comércio e produção de medicamentos nasce uma Medicina obcecada por uma metodologia ou procedimentos com caráter científico capazes de fornecer uma precisão quase que Matemática em seus diagnósticos.
Chegamos ao ponto em que a distância física e o tempo já não são mais barreiras para consultas, exames e a interação entre profissionais na busca de soluções e conhecimento. Os equipamentos de exame por imagem se conectam mundialmente gerando infindos bancos de diagnósticos. Com o uso das redes neurais a cada exame feito em um continente os diagnósticos são aprimorados em outros continentes.
Tecnologias novas florescem em todos os dias e seus aperfeiçoamentos se concretizam em eventos simultâneos em todos os países. A evolução estratégica da medicina agora é uma questão de observação do modelo de progressão se geométrica ou exponencial… pois a aritmética há muito tempo deixou este campo da ciência.
Vamos analisar… Com todo este ferramental uma pessoa diagnosticada com uma Leucemia derivada de uma degeneração do DNA e ela interage com outro também diagnosticado, algo ficaria muito evidenciado na análise de seus perfis individuais, considerando que eles fossem tratados da mesma maneira, pelo mesmo profissional e com os mesmos medicamentos. Sendo um deles afrodescendente, com mais de 130 Kgs, com histórico de pesadas atividades físicas, nunca fumou, nunca usou qualquer droga, carnívoro, com mais de cinquenta anos, um metro e oitenta e uma vida executiva que o tornou sedentário. E seu amigo, não imaginário, seria ítalo descendente, vegetariano, um metro e sessenta, setenta quilos, fumante, bebedor de cerveja, corredor de maratona e com 35 anos. Isso significa que o mesmo medicamento na mesma dosagem, aplicado da mesma maneira, irá ocasionar o mesmo resultado final?
Evidentemente que não …. nunca será o mesmo resultado … Logo, quem irá ter sucesso mais rapidamente em seu tratamento?
Tão necessário como diagnosticar o mais perto possível das iniciais manifestações de qualquer doença é fundamental que os parâmetros personalísticos de cada indivíduo sejam inseridos nesta equação de atendimento. Uma análise efetivamente assertiva do tratamento só será encontrada se utilizarmos uma Integral baseada em uma função derivativa do tempo e de todas as disciplinas necessárias ao fracionamento o mais minucioso possível das características individuais.
Este princípio sempre regeu inúmeras vertentes funcionais nos campos da Homeopatia que direciona seus fundamentos as características individuais de cada organismo vivo e como eles se relacionam em um tratamento e/ou atividades preventivas. A medicina que se consolidou pós Segunda Grande Guerra pouco pode usar destes parâmetros, não por sua autodeterminação ou dos profissionais que a constituem, mas principalmente pelo volume de atendimentos necessários que acabam transpondo a capacidade de individualização pela impossibilidade da escalabilidade nos procedimentos analógicos e/ou nos baseados na computação sistêmica tradicional.
Vem assim a pergunta de um milhão:
Como personalizar as características individuais geneticamente consolidadas, hábitos sociais, camadas relacionais, características vivencias, variantes geográficas, detalhes alimentares e todos os parâmetros que acercam o vivencial diário de nossa espécie?
Esta pergunta seria impossível de responder antes da IBM presentar o mundo com o conceito de Cognição através do primeiro modelo cognitivo funcional que é o WATSON.
Com o surgimento da Cognição e logo em seguida o uso aprimorado das funcionalidades Cognitivas, bem como procedimentos de alto desempenho para análise e processamento massivos de dados estruturados e/ou não estruturados, Variáveis de pesquisa contínua, Estrutura de caracterização matemática de funções operacionais com divergência de estado em função do tempo, Máquinas de aprendizado contínuo, Modelagem por Inteligência Artificial e simulação discreta contínua, pode-se dizer com veemência que a cozinha está pronta, basta os chefs resolverem encarar os novos desafios da culinária intelectual.
Esta salada tecnológica gera uma Plataforma Ecossistêmica capaz de transformar dados de todos os tipos e origens numa Consciência Computacional, concretando o substrato fundamental para que os Sistemas de Apoio a Decisão possam gerar informações verticalmente úteis e horizontalmente exponenciáveis. Criando uma personalização dos tratamentos e diagnósticos em todos os campos da Medicina.
A Tecnologia Cognitiva permite a individualização procedural que leva em conta todos os parâmetros socioculturais, econômicos, relacionais, genéticos, alimentares, familiares e comportamentais de um indivíduo ao ponto de sua medicação, tratamento e procedimentos já fossem calculados, corrigidos e parametrizados nos estágios iniciais de uma descoberta diagnostica. Somando-se a este evento a capacidade de ao longo do tempo corrigir os parâmetros individuais para que tudo se adapte a uma realidade a cada dia mais específica.
A Individualização da Medicina não é uma vertente evolucionária de sua essência existencial, ou mesmo uma postura comercial para novos produtos, a individualização da Medicina na Realidade é “A” necessidade latente para continuidade de nossa espécie com uma eloquente qualidade de vida.
No Brasil alguns hospitais já iniciaram seus esforços neste segmento capaz de transformar a medicina integralmente em pouco tempo, um exemplo funcional deste início de atividade é o Centro de Oncologia e Hematologia Einstein Família DayanDaycoval que já identificou o potencial desta sistemática na portabilização quase que individualizada de seus procedimentos. Com um acervo intelectual maior que o ferramental tecnológico derivativo, sua abordagem demonstra o entendimento estratégico da Modelagem COGNITIVA, fundamental para a individualização dos tratamentos e procedimentos necessariamente vitais.
Este pequeno artigo tem algo de especial em seu contexto, pois a maioria dos artigos são escritos por um analista, comentarista, estudioso ou um especialista que na grande maioria das vezes conhece o contexto por teorização ou por mera especulação.
Neste a realidade é bem outra, caso o articulista possuísse o diagnóstico de um caso raro de câncer de sangue, ocasionado por uma mutação genética, uma leucemia derivada de uma degeneração do DNA que a menos de cinco anos determinava um período de vida não superior a meses. Todavia, devido a individualização de seu tratamento ele se encontra, aqui, escrevendo para que outros como ele possam usar seu conhecimento para conscientizar e ajudar transformar a vida de mais alguns.
Ia me esquecendo, também estou aqui torcendo para que os chefs resolvam encarar os novos desafios da culinária intelectual e preparar uma refeição digna dos que desejam viver pelo menos mais um pouco.
Flávio Oliveira, Diretor de Desenvolvimento e Tecnologia da 4Mooney Tecnologia e Inovação para o Mercado Financeiro.