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Como a fabricação in loco de cloro pode beneficiar o saneamento básico no Brasil?

4 Mins read

POR: Alfredo Kerzner

O cloro é um produto indispensável para o tratamento de água. Contudo, trata-se de uma substância tóxica, que no estado gasoso é um irritante primário das vias respiratórias. A breve inalação do cloro pode causar lesões brônquicas. A permanência prolongada em áreas contaminadas, ocasiona edema pulmonar agudo, que pode levar a fatalidades.

Seus efeitos são proporcionais à concentração e tempo de exposição. Ou seja, um eventual vazamento de cloro representa riscos tanto para o ser humano quanto para o meio ambiente. Apesar de todos os cuidados, muitos acidentes envolvendo substâncias perigosas já ocorreram em todo o mundo. O fato desperta para a necessidade de novas alternativas de produção e redução de armazenamento/transporte dado que não podemos prescindir do cloro para a produção de água potável.

Normalmente, as fábricas de cloro são instaladas em grandes polos petroquímicos, já que boa parte da produção está relacionada à fabricação de PVC ou outras indústrias de grande escala. Isso faz com que a produção, na maioria dos casos, fique longe do consumo quando falamos de tratamento de água, por exemplo.

Segundo estimativas da Abiclor, são consumidas anualmente aproximadamente 29 mil toneladas de cloro gás (2018) para o tratamento de água no país. Isso significa que esse produto está circulando pelas estradas e ruas de todos os estados brasileiros diariamente, representando um risco constante de acidentes.

Somado a isso, o desenvolvimento desordenado das cidades tem feito com que as comunidades estejam localizadas cada vez mais próximas das estações de tratamento de água, as ETAs. Embora haja uma série de protocolos de segurança para o manuseio do produto, podem acontecer acidentes decorrentes do mau funcionamento de válvulas de fechamento, vazamentos no armazenamento ou instalações inadequadas de cilindros, por exemplo. Convém notar que temos, às vezes, toneladas de cloro armazenadas em estações de tratamento de água localizadas em centros urbanos.

Produção in loco: Em virtude dos riscos acima mencionados no uso do cloro, algumas companhias de saneamento têm buscado alternativas.

Para o caso de Estações de Tratamento de Água, que demandam o consumo de algumas toneladas de cloro (usualmente superiores a duas toneladas de cloro/dia), a produção de cloro ïn loco é uma solução viável, trazendo as seguintes vantagens:

  • Mais segurança para pessoas e meio ambiente – A quantidade de cloro gás presente na planta fica desprezível, passando de toneladas para alguns quilos. O cloro, apenas produzido, é injetado na água, de forma que a quantidade de cloro na planta passa a ser apenas o gás presente na tubulação de baixa pressão entre o reator e o ponto de injeção.
  • Just in time – O cloro é fornecido de acordo com o consumo da planta, sem necessidade de armazenamento.
  • Segurança no fornecimento – Produção in loco 24 horas por dia, sete dias por semana e estoques de reserva (hipoclorito e sal). Considerando as situações de ameaça de abastecimento que temos em nosso país e a importância fundamental em manter as operações de fornecimento de água potável, ter autonomia de produção de um insumo estratégico como cloro dentro da própria planta é fundamental.
  • Ambientalmente correto – Produção limpa, com tecnologia de membrana, sem resíduos tóxicos e livre de metais pesados

Case de sucesso: Desde 2014, em vez de transportar o cloro liquefeito de Recife, a 800 km de distância de Fortaleza, a Estação de Tratamento de Águas Gavião (ETA Gavião), pertencente à CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará, obtém seu próprio cloro de uma planta instalada dentro da ETA. Como é produzido e injetado diretamente na água, não existem mais os riscos relativos à compressão, transporte e manuseio deste insumo.

Outra vantagem é a garantia de abastecimento. Desde que a planta foi instalada, não houve qualquer interrupção no fornecimento de cloro, mesmo em momentos difíceis, como a greve dos caminhoneiros, em 2018, e agora com a pandemia de coronavírus, em 2020.

Antes, o cloro chegava por caminhões tanque de 18 toneladas e era preciso ficar estocado sob pressão. Agora, o cloro, em estado gasoso, é injetado diretamente na água. Na planta, estima-se a presença de, no máximo, 10 quilos de cloro, correspondente ao produto contido nas tubulações, desde o ponto de produção até o de injeção.

Instalada em uma área de menos de 5 mil metros quadrados, a fábrica tem capacidade produtiva de 10 toneladas de cloro por dia. O projeto foi viabilizado pela Chlorum Solutions, por meio de sua controlada da Alliance Química. A empresa assumiu todos os custos de construção e operação da planta, comercializando apenas o cloro que a ETA consome.

Essa planta opera com tecnologia de membrana, 100% livre de poluentes e considerada BAT (Best Available Technology) para a indústria de cloro-soda pela União Europeia (Diretiva 2010/75/UE), o que faz com que os produtos sejam livres de metais pesados e resíduos tóxicos. Trata-se de uma fábrica ecologicamente correta, com baixo impacto ambiental.

É por esses e tantos outros motivos que a produção in loco de cloro se apresenta como uma importante alternativa para companhias de tratamento de água de todo o Brasil. Ganha a empresa, seja ela pública ou privada, o meio ambiente e todo o ecossistema de saneamento básico do país.

Alfredo Kerzner é Presidente da Chlorum Solutions, empresa pioneira na fabricação de cloro em mini plantas.

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