Hoje quase metade das empresas brasileiras são comandadas por elas, que têm de enfrentar os desafios do mercado e ‘se virar nos 30’ para dar conta de afazeres que vão além do mundo dos negócios
Lançado pela ONU, em 2014, o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, que acontece nesta segunda-feira, 19, propõe um debate sobre os avanços e conquistas das mulheres no mundo dos negócios. O Anuário dos Trabalhadores das MPE, publicado pelo Sebrae, é um incentivo para mulheres que sonham estar à frente do próprio empreendimento: os dados apontam que, entre 2005 e 2015, o número de mulheres empreendedoras no Brasil cresceu 15,4% – saltando de 6,9 milhões para 8 milhões. Em contrapartida, são os homens que detém a maior parcela do mercado nacional. Eles são donos 17,3 milhões de empresas. Os índices revelam também que, em dez anos, a participação das mulheres no total de empreendedores passou de 30,7%, em 2005, para 31,6%, em 2015, em todo o território nacional. Outro fator relevante da pesquisa é que os negócios liderados por elas sobrevivem mais em tempos de crise.
São esses dados que tem inspirado mulheres nos quatro cantos do país a superarem desafios e escreverem suas próprias histórias de sucesso. Mulheres como a empresária e Chef Patrícia Lopes, que decidiu mergulhar de peito aberto no universo corporativo e abrir as portas da Cook it, empresa do setor de alimentação pioneira em produtos gourmet desidratados. “Eu costumo dizer que dormi advogada e acordei empresária”, conta ela. “Há 15 anos, quando decidi mudar de cidade, mudei também de carreira. Um dia, me vi dona de um café comandando dezoito pessoas. Mas empreender não é uma tarefa fácil. Ainda mais no ambiente feminino, onde tudo é ainda mais difícil porque temos que encarar várias jornadas. Além de empresária, sou mãe e esposa; e eu não abro mão de conciliar família e empresa”, revela a empresária, que declara fazer questão de estar presente no café da manhã e de levantar todos os dias para levar o filho à escola. “É um momento muito especial para nós”, declara.
O consultor de negócios e CEO da Contabilivre, Mauro Fontes, analisou os índices e destacou as principais dificuldades das mulheres na hora de enfrentarem os desafios de empreender. “O mundo dos negócios é extremamente competitivo para todos. Isso é fato! O problema é que elas são obrigadas a superar fatores que vão além do mercado. Por exemplo, o sexismo (discriminação baseada nos estereótipos de gênero) ainda é uma barreira que elas enfrentam desde a hora da contratação até quando sonham em abrir o próprio negócio”.
Analisando o mercado hoje, Patrícia Lopes confessa que as mulheres têm características especiais, bem distintas dos homens. “Acredito que há um diferencial em nós, mulheres, quando se fala em empreendedorismo. Seja por criação mesmo, a gente tende a se preocupar mais com o todo. Estamos sempre atentas aos detalhes e isso faz muita diferença nos resultados”, afirma a empresária, que também é blogueira, pesquisadora e food trotter. Ela completa: “O Brasil não é para amadores! Aqui temos que ser profissionais porque enfrentamos dificuldades que vão além da dupla jornada. Mas, de uma forma geral, é importante saber equilibrar as demandas e aceitar que você não vai ser 100% mãe, mulher, empreendedora, 100% do tempo”.
– Desafios e superação:
Muito mais do que celebrar, a data também é uma oportunidade para refletir sobre os muitos obstáculos enfrentados por elas dentro e fora do mundo dos negócios. Uma análise divulgada pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM), por exemplo, aponta que no Brasil dos 39,3% da Taxa Total de Empreendedores, 42,4% são homens e 36,4% mulheres. Outro levantamento, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), revela que mais de 40% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres e que elas possuem escolaridade média maior que a dos homens. Essa mesma pesquisa aponta também que são essas as mulheres que administram suas empresas, e ainda realizam as tarefas domésticas, cuidam dos filhos e ainda estudam. Múltipla jornada que exige delas carga física e psicológicas extras, para que tantas funções sejam executadas com qualidade e eficácia.
Segundo o consultor de negócios Mauro Fontes, da Contabilivre, “mesmo que em todo o mundo cerca de 30% de todas as empresas privadas sejam geridas por mulheres, elas ainda sofrem muitos julgamentos. Existem companhias, por exemplo, que ainda disseminam e acreditam que homens são mais competentes quando o assunto é negócio. Isso impede que elas encontrem um ambiente propício para crescerem e mostrarem habilidades. O que é uma pena, porque quanto mais mulheres trabalham, mais a economia cresce e o país agradece”, ressalta Fontes.
– Dados gerais (Fonte – Sebrae):
Anuário dos Trabalhadores das MPE
- De 2005 a 2015, o número de mulheres empreendedoras teve um incremento de 15,4%, enquanto que o de homens, 10,3%. Em 2005, eram 6,9 milhões de mulheres a frente de um negócio, em 2015, esse número saltou para 8 milhões. Já o quantitativo de homens, donos de negócios, passou de 15,7 milhões para 17,3 milhões, nesse mesmo período.
- A participação das mulheres no total de empreendedores no País passou de 30,7%, em 2005, para 31,6%, em 2015.
- O rendimento médio real mensal das donas de microempresas aumentou mais do que o dos donos de empresas, no período de 2005 a 2015. A alta do rendimento das microempresárias foi de 20%, nesse período, enquanto o rendimento médio real mensal dos microempresários subiu em ritmo menor: 14,5%.
- A diferença entre os rendimentos dos homens e das mulheres, donos de microempresas, diminuiu de 20,5%, em 2005, para 16,7%, em 2015.
GEM Mulheres 2016
- Entre os empreendedores novos (que possuem um negócio com até 3,5 anos) as mulheres têm uma taxa de empreendedorismo superior a dos homens. A taxa delas é de 15,4% e a deles de 12,6%. Isso pode identificar um movimento mais forte de entrada de mulheres na atividade empreendedora.
- As mulheres empreendem mais por necessidade. Entre os novos empreendedores, 48% delas empreendem por que precisam. Entre os homens esse número cai para 37%. A taxa média de empreendedorismo por necessidade é de 43%.
- Entre 2014, a principal motivação para o empreendedorismo feminino era a oportunidade. Em 2015, essa situação mudou e mais da metade das mulheres que começaram a empreender o fizeram por necessidade.
- O possível motivo para essa queda é a crise e a um ingresso mais forte de mulheres no mercado de trabalho, mas que optaram pelo ingresso no mesmo para complementar a renda familiar.
- Elas são mais jovens (mais de 40% das empreendedoras têm até 34 anos, enquanto no grupo dos homens 36% têm até 34 anos); mais escolarizadas (33,6% dos homens têm no máximo o primeiro grau incompleto, esta proporção cai para 22,5% no grupo das mulheres); ganham menos (73,4% recebem até 3 S.M. contra 59,3% nos homens);
- As “Empreendedoras Iniciais” estão concentradas em poucas atividades. Cerca de 49% dessas mulheres estão em apenas 4 atividades: 13,5% no segmento de serviços domésticos, 12,6% em cabeleireiros e/ou tratamento de beleza, 12,3% em comércio varejista de vestuário e acessórios e 10,3% no Serviços de catering, bufê e outros serviços de comida preparada
- 50% dos “Empreendedores Iniciais” do sexo masculino estão distribuídos em 9 atividades
- 85% das empreendedoras não tem nenhum empregado atualmente, contra 66% dos homens;
- 43% das empreendedoras esperam criar algum emprego nos próximos 5 anos, contra 54% dos homens;
- 72% das empreendedoras operam negócios que faturam até R$24 mil/ano, contra 53% dos homens.
- As empreendedoras trabalham com menos empregados, faturamento mais modesto e expectativas mais modestas de criação de novos empregos.
- As mulheres desejam menos ter o próprio negócio, se comparado aos homens. Entre eles, esse é o terceiro sonho, já entre elas cai para a quarta posição;
- As mulheres corresponderam a 51,5% dos empreendedores iniciais (com negócios abertos há no máximo 3 anos e meio) em 2016. Em 2015, elas representavam 49%;
- Na região Centro-Oeste do país o percentual de mulheres empreendedoras é superior à taxa nacional (58,6%);