Para Rica Mello, palestrante e gestor de pessoas, a maioria das empresas brasileiras segue um modelo que não valoriza as mulheres e, principalmente, as mães
POR: Carolina Lara
A discussão sobre o tratamento dado às mulheres foi um dos pontos centrais do debate realizado pela Band no dia 28 de agosto. O tema foi levantado após um questionamento da jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, que perguntou ao candidato Ciro Gomes (PDT) sobre os problemas relacionados à cobertura vacinal do Brasil, citando as falas problemáticas do presidente Jair Bolsonaro (PL) como um exemplo negativo.
Na réplica, Bolsonaro resolveu atacar a jornalista e não respondeu a questão levantada por ela, causando uma onda de revolta na internet e dentro dos próprios estúdios da emissora. Com isso, as discussões sobre o papel das mulheres na sociedade se tornaram um dos pontos centrais do debate na Band.
Uma pesquisa realizada pela Grant Thornton revelou que as mulheres ocupam 38% dos cargos de liderança no Brasil. O resultado mostra uma pequena queda em relação ao estudo de 2021, quando 39% das mulheres estavam em posições de liderança.
Para Rica Mello, gestor de pessoas, palestrante e empreendedor em diversas áreas de negócio, os fatores que corroboram para esses números são históricos e culturais. “As mulheres começaram a ter mais oportunidades nos últimos 20 anos, é algo mais recente. As nossas mães, com toda a certeza, tiveram menos oportunidades que as mulheres nos dias de hoje. No entanto, os números seguem longe de serem igualitários. Muitos ainda mantêm os valores instruídos na infância, como os estereótipos de que os homens trabalham e as mulheres ficam em casa cuidando das crianças. Isso foi diminuindo ao longo do tempo, mas ainda perdura por algumas razões”, relata.
De acordo com o palestrante, a maternidade também é uma das razões por trás desses números. “A carga em cima da mulher sempre é maior. Mesmo que o pai seja extremamente presente, as responsabilidades que uma mãe exerce raramente podem ser substituídas. Para alcançar um cargo de liderança, muitas mães se vêem obrigadas a renunciar a tarefas fundamentais, como a amamentação. A decisão de ter filhos pode adiar os planos de carreira, principalmente para mulheres que pretendem assumir funções de comando na empresa”, pontua.
Rica Mello acredita que as corporações devam ser mais compreensivas com as adversidades femininas para que elas possam alcançar um patamar igualitário ao dos homens em posições de liderança. “As empresas não dão liberdade para essas mulheres cuidarem de seus filhos por seis meses ou até mesmo um ano, não oferecem maior flexibilidade nesse período e ainda favorecem aqueles que estão disponíveis dentro das organizações. Se olharmos para alguns países que são referência, a licença maternidade é de um ano, em alguns casos um ano e meio e podem ser compartilhadas entre pai e mãe na proporção que eles acharem melhor. No Brasil, a licença paternidade é de apenas 5 dias. Isso mostra que, de fato, é uma questão cultural que segue atrasada”, lamenta.
Para o gestor, uma mudança de cenário exige uma transformação de conceitos nas mais diversas vertentes da sociedade. “Essa evolução tem que ser trabalhada nas escolas, no ensino fundamental, nas empresas e, até mesmo, em propagandas, filmes e novelas. Nas mais diversas obras de ficção, lamentavelmente, as mulheres são sempre retratadas como as principais cuidadoras da casa e da família, tirando essa responsabilidade do homem”, revela.
Algumas empresas em solo nacional tentam uma abordagem diferente e mais humanizada. “A Natura é um exemplo de boas práticas, disponibilizando creches para que as mães possam ter uma atuação mais tranquila. Além disso, a empresa aumentou o tempo da licença maternidade para seis meses e disponibilizou um mês de licença para homens que viraram pais recentemente. Casais homossexuais também têm direito à licença maternidade/paternidade. Acredito que falta um suporte nesse sentido por parte das organizações para que essas mulheres voltem a atuar com força após o período inicial de maternidade e possam alcançar cargos de liderança dentro das organizações”, finaliza.
Dentro do conceito de Gestão Exponencial, Rica acredita que a presença das mulheres na liderança é imprescindível para o desenvolvimento corporativo. “A diversidade não deve fazer parte apenas da parte operacional da empresa, mas também estar presente em posições mais altas dentro da hierarquia organizacional”.
Instituições que incluem pessoas de diferentes grupos em seu pool de talentos contam com referências e ideias distintas, justamente porque cria-se um espaço para discussões sadias e para o desenvolvimento de soluções realmente inovadoras. Essa característica permite uma melhor compreensão das necessidades dos clientes e a entrega de produtos/serviços que atendam às demandas, aumentando o valor da marca e impulsionando o crescimento da empresa.
Sobre Rica Mello
Rica Mello é apaixonado por gestão, números, estratégia e pessoas. Dedicou uma década auxiliando grandes empresas como consultor estratégico da McKinsey e Bain & Company antes de criar seus próprios negócios. É empreendedor serial e está à frente de negócios em diversos segmentos como indústria, distribuição, importação, varejo, e-commerce e educação. Auxilia empresários a navegar no desafiante mercado brasileiro e é uma das lideranças da indústria que se preocupam com iniciativas de coleta e reciclagem de materiais. Possui MBA pela Kellogg School e especialização pela Singularity University. Ele aprendeu a gerenciar empresas de qualquer lugar do mundo, para alimentar sua outra grande paixão, que é viajar. Conhece 136 países e almeja visitar todos os países do mundo até 2025.
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