Especialista alerta que mercado internacional teme crise nas empresas e novos lockdowns no país
POR: Betini Comunicação
Menos de 20% da população brasileira foi vacinada contra a Covid-19. E, embora o ritmo de imunização tenha acelerado, a demora no início da vacinação e na entrega de novas doses não preocupa apenas em função da saúde. A economia também é diretamente afetada. De acordo com o IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a economia brasileira encolheu 4,1% no ano passado. E a melhora, que tanta gente esperou para 2021, pode não acontecer no ritmo necessário para repor as perdas experimentadas. É o que alerta o advogado Emanuel Pessoa, Mestre em Direito pela Universidade de Harvard e Doutor em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo.
De acordo com o especialista, a demora na imunização em massa no Brasil afasta investimentos estrangeiros do país, que poderiam registrar números bem maiores. “Considerando a desvalorização do real, era para o Brasil estar recebendo investimentos altíssimos. Mas a dificuldade de vacinação, que contradiz o histórico nacional, que sempre foi de conseguir levar a cabo campanhas em tempo recorde, faz com que o receio de sucessivos lockdowns, demissões em massa e prejuízos nas empresas afastem os investimentos internacionais”.
Segundo Emanuel, o Brasil, que sempre foi a inveja do mundo na logística de aplicação de vacinas, vem deteriorando a sua imagem no exterior como destino de investimentos estrangeiros produtivos. Isso ocorre porque, com o avanço da pandemia e a dificuldade da vacinação com problemas logísticos causados por um desencontro entre as unidades federativas e pela dificuldade na aquisição de vacinas, a instabilidade política e econômica no país se acentuam, neutralizando os efeitos positivos dos sinais de recuperação ante o medo de deterioração futura.
“A desvalorização do real torna o capital estrangeiro muito mais forte no território nacional. Ainda assim, não vemos esse investimento aqui no volume que se deveria esperar. E para entender isso, basta se colocar do lado de lá: se estivesse de fora, vendo a situação do país, você escolheria o Brasil para investir?”, questiona o advogado. Embora o Brasil esteja agora com um ritmo melhor de aquisição de vacinas e acelerando a imunização, chegando a se mostrar melhor do que muitas nações em situação econômica superior, o fato é que, sem uma vacinação ampla e eficaz, a retomada do crescimento econômico será mais difícil, segundo Emanuel.
Do ponto de vista do crescimento da economia, o advogado lembra que se espera que o PIB brasileiro cresça pelo menos 3,5% este ano. Contudo, com o agravamento da situação das quarentenas e o recente lockdown, as previsões que vão se sucedendo têm reduzido as expectativas, que originalmente eram de um crescimento de 4,5%. “Assim, não obstante a questão da crise, a economia brasileira não irá recuperar em 2021 toda a perda de 2020. E isso é um problema, já que a década de 2010 foi uma década perdida em termos de crescimento da renda per capita, de modo que nós podemos ter o mesmo problema agora nos primeiros anos da década de 2020”, afirma.
Mas a situação vai além da pandemia. O especialista explica que o problema da economia brasileira é estrutural. “Nós temos uma situação em que é muito difícil contratar e é muito difícil demitir, o que tira a agilidade da economia, como a gente vê nos Estados Unidos, onde rapidamente o mercado se recupera, bastando serem removidas as condições de crise, por causa da facilidade de contratação e demissão, além do crédito abundante na ponta”.
Emanuel vai além. “Por mais que a taxa de juros esteja baixa hoje no Brasil, isso não atinge a ponta porque a concorrência bancária é baixíssima, a inadimplência é historicamente alta e os empréstimos em geral tendem a não ter tantas garantias quanto ocorre no exterior. Então, as taxas de juros seguem altas para os tomadores. E aí, fica difícil sair desse ciclo”, finaliza.
Sobre Emanuel Pessoa
Emanuel Pessoa é advogado, especialista em Direito Econômico Internacional e Negociação de Contratos, Inovação e Internacionalização de Empresas. É Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo, Certificado em Negócios de Inovação pela Stanford Graduate School of Business, além de ser Bacharel e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará. O profissional ainda ensina Negociação Avançada em cursos executivos. Com um escritório sediado em São Paulo, atende clientes de todo o Brasil e do exterior. Seu propósito é fazer das empresas brasileiras companhias globais.