Por José Luis Vargas* | Crase Editorial
A América Latina é uma das regiões no mundo com potencial mais significativo para inovação financeira. Já vimos essa tendência começar a se desenrolar nos últimos anos com o surgimento de inúmeras fintechs, especialmente no Brasil e no México, que estão abrindo caminho para outros mercados na região. Entretanto, a América Latina enfrenta desafios culturais profundamente enraizados à medida que se moderniza e se torna mais inclusiva financeiramente para todos os cidadãos, especialmente mulheres.
A boa notícia é que, através do uso de dados alternativos e machine learning, que permitem analisar comportamentos além dos pontos de dados tradicionais para avaliar seu real potencial como clientes, bancos e credores podem ajudar a mitigar a brecha de gênero para apoiar empresas comandadas por mulheres.
Neste sentido, bancos e instituições financeiras devem começar a adotar estratégias e tecnologias com consciência de gênero ao reexaminar condições de mercado para determinar os serviços financeiros necessários para as mulheres.
A Corporação Financeira Internacional (IFC) estima que, no mundo inteiro, há uma brecha de US$ 287 bilhões para financiamento de empresas formais de pequeno e médio porte pertencentes a mulheres e que a América Latina é a região com o maior gap: US$ 85,63 bilhões.
O empreendedorismo deve ser incentivado nas empresas comandadas por mulheres e desenvolvido sistematicamente dentro das instituições financeiras. Ao construir uma economia de investidores para empreendedoras, as organizações podem enfrentar brechas persistentes de financiamento de uma melhor forma.
Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), 54% das mulheres têm de usar as próprias economias para iniciar um projeto, já que apenas 15% conseguem abrir suas empresas com o apoio de um banco privado. A entidade declara que medo de fracasso, responsabilidades no lar e falta de motivação estão entre as principais barreiras para mulheres que querem abrir uma empresa. Além disso, elas tendem a ter menos bens em seu nome do que os homens, o que torna mais difícil provar aos bancos sua capacidade de honrar empréstimos.
Atingir um nível de inclusão financeira que aborde as barreiras existentes e resulte em mudança substancial é o caminho para que mulheres na região tenham acesso a oportunidades diversificadas de negócios e serviços.
No Brasil, uma pesquisa do Sebrae constatou que o número de mulheres que operam uma empresa aumentou 124% entre 2014 e 2019. Um dos exemplos recentes mais significativos de uma empreendedora bem-sucedida na região é Cristina Junqueira, cofundadora e recém-nomeada CEO para o Brasil do Nubank, a maior fintech da América Latina. Ela cofundou a empresa em 2013 pela insatisfação com as altas taxas de juros e o atendimento de grandes bancos brasileiros e, atualmente, a fintech conta com mais de 34 milhões de clientes, após triplicar seu número de usuários em menos de dois anos.
As mulheres tendem a ser melhores pagadoras de crédito (de acordo com a Associación Empresa Mujer, do México), mas tendem a pedir menos porque são menos abertas a risco do que os homens. No país, das 100 empreendedoras que solicitam crédito, 99 o liquidam. Entretanto, 70% das PMEs lideradas por mulheres não receberam esses empréstimos.
Há muitas formas de ajudar empreendedoras, incluindo a facilitação de acesso a redes de negócios que possam ajudá-las a construir relacionamentos e conexões para ampliar suas empresas. Empreendedoras também precisam de maior clareza sobre os critérios específicos de investimento a serem incluídos no envio de propostas e maior transparência ao longo do processo de investimento.
Por toda a região, vemos evidências de como o processo de empréstimo representa um cenário desigual para mulheres. No Brasil, ao solicitarem crédito, as mulheres ouvem perguntas sobre estado civil, se têm filhos, idade dos filhos, se são responsáveis por gerenciar a casa, se alguém cuida das crianças enquanto elas trabalham – perguntas que não costumam ser feitas a homens que solicitam crédito.
À medida que a “revolução das fintechs” continua se disseminando pela América Latina com o crescente uso de internet e smartphones, haverá mais opções para as mulheres receberem crédito onde antes não teriam conseguido. Desta forma, a tecnologia é uma catalisadora da inclusão financeira, especialmente para quem tem sido historicamente excluído da economia.
Fazer uma avaliação diferenciada de empresas comandadas por mulheres para oferecer melhores alternativas de crédito a elas pode apoiar a reativação da economia. Instituições financeiras podem apoiar empreendedoras, pois elas podem contribuir significativamente à sociedade com novas ideias e inovações se tiverem a oportunidade, como tem sido visto em muitos casos.
Ao adotar tecnologias em para tomada de decisões de risco como a Cloud Suite da Provenir, instituições financeiras e credores podem avaliar de forma rápida e precisa o risco de crédito para empréstimos pessoais e empresariais e estabelecer critérios específicos para determinar de forma mais adequada o potencial das mulheres para receber crédito.
O uso de dados alternativos para avaliar o risco de crédito é uma tendência que vem ganhando impulso recentemente e terá um papel essencial na concessão de crédito a quem tradicionalmente não teria sido considerado digno de financiamento. À medida que big data e machine learning avançam, será cada vez mais confiável e direto tomar decisões de risco com os insights adequados.
Os possíveis benefícios à sociedade do aumento da inclusão e de oportunidades para mulheres são claros. Entretanto, agora cabe às instituições adotarem a tecnologia certa para permitir mais inovações e oportunidades de negócio, modernizar o cenário de empréstimos e fechar a brecha de gênero na América Latina.
* José Luis Vargas-Favero é vice-presidente executivo e gerente-geral da Provenir América Latina. Nesta função, Vargas é responsável por liderar os ambiciosos planos de expansão da companhia para triplicar sua presença na região. Ao longo de sua carreira, construiu e comandou equipes bem-sucedidas em vendas, desenvolvimento de negócios e consultoria. Ele tem paixão por inclusão financeira, tecnologia e inspiração de uma cultura de alto desempenho. Ocupou vários cargos de liderança na FICO, incluindo consultor sênior de negócios para Américas e Ásia, diretor sênior para LAC e vice-presidente e diretor geral para Europa Ocidental e Israel, antes de entrar para a Provenir. Anteriormente à FICO, José passou cinco anos no setor de serviços financeiros do México e da América Latina, trabalhando para o Scotiabank e o Citibank.