O doping é, sem dúvidas, uma das principais ameaças ao universo dos esportes. Além de acabar com a igualdade entre competidores em disputas esportivas, o uso de substâncias proibidas para melhorar o desempenho físico também pode causar prejuízos à saúde dos atletas. Apesar dos riscos, essa prática é bastante comum. Testes realizados por agências antidoping flagram substâncias proibidas em 1% a 2% das amostras. No entanto, em entrevistas realizadas sob sigilo, cerca de 40% dos atletas admitem usar algum tipo de doping. Um dos métodos mais comuns é o consumo de testosterona: hormônio fundamental para diversas funções do nosso corpo, mas que causa danos quando em excesso.
O médico do esporte Dr. Lucas Caseri explica que a testosterona é o principal hormônio andrógino, responsável pelo desenvolvimento de características masculinas. Entre os efeitos da substância estão o aumento da massa muscular, o crescimento do pomo de Adão, o engrossamento da voz e o aparecimento do padrão de calvície masculina. A testosterona também tem papel importante na libido e no desenvolvimento dos órgãos sexuais masculinos durante a puberdade. Homens e mulheres produzem a substância, mas em quantidades diferentes. Os níveis do hormônio, que é sintetizado a partir do colesterol, oscilam ao longo do dia: são mais altos pela manhã e vão caindo com o passar das horas. No entanto, devem ficar dentro de parâmetros mínimos e máximos.
Dr. Lucas Caseri afirma que o consumo de testosterona por atletas que apresentam níveis normais do hormônio é considerado doping porque aumenta a síntese de proteínas, o que leva ao aumento da massa muscular. Assim, o atleta consegue ficar mais pesado e mais forte, o que pode conferir vantagens indevidas em vários esportes. “O hormônio também age no sistema nervoso central melhorando vários fatores que vão culminar com uma maior capacidade de geração de força”, acrescenta o médico. Além disso, a substância também acelera o processo de perda e renovação das células, o que melhora a recuperação muscular e possibilita que o indivíduo treine em intensidades muito maiores, melhorando claramente a sua capacidade física. Dr. Lucas destaca, ainda, que o excesso de testosterona no corpo pode causar vários transtornos a longo prazo.
Entretanto, ele lembra que é importante separar o consumo de testosterona que caracteriza doping e o consumo em um cenário terapêutico. Quando há o chamado hipogonadismo, quadro em que o corpo não consegue sintetizar testosterona suficiente (devido ao envelhecimento, ao uso de remédios ou a outros fatores), a reposição hormonal torna-se importante para que o paciente volte a ter níveis normais da substância. Dr. Lucas ressalta que esse é um cenário completamente diferente do doping ou do uso para fins estéticos, já que, nesses casos, a quantidade de testosterona no corpo é mantida em um nível acima do normal. Atletas que tenham naturalmente níveis baixos de testosterona podem, inclusive, obter autorização especial para consumir o hormônio sem que isso seja considerado doping.
Nos casos em que há falta de testosterona, pacientes podem manifestar sintomas como diminuição da libido, sensação de fadiga, lentidão no raciocínio e tendência a um humor deprimido. Outros sinais são o acúmulo de gordura na região abdominal, a perda de massa muscular, a redução dos pelos corporais e a ginecomastia, que é o crescimento da glândula mamária nos homens.
Como a testosterona estimula a produção de células vermelhas do sangue, a falta dela também pode causar anemia. O hormônio atua ainda nos ossos, e sua ausência pode levar à osteopenia ou osteoporose. “Estudos epidemiológicos, de acompanhamento de populações ao longo do tempo, mostram que níveis baixos de testosterona estão relacionados ao aumento da mortalidade e ao aparecimento de doenças”, pontua Dr. Lucas Caseri.
A reposição hormonal é indicada quando há a presença dos sintomas citados e exames laboratoriais também comprovam que os níveis de testosterona estão abaixo do indicado pelas sociedades médicas. No entanto, é importante que a dosagem da medicação seja ajustada com cuidado, para evitar que a quantidade do hormônio ultrapasse os níveis normais. Nesses casos, assim como nos de doping, a alta concentração de testosterona pode exacerbar a produção de glóbulos vermelhos, aumentando a viscosidade do sangue. Também podem surgir efeitos negativos como irritabilidade e libido excessiva, que provocam transtornos no cotidiano do paciente.