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ESG: uma métrica de lucro sem uma métrica de conceito

4 Mins read
Por Juliana Ramalho, sócia-fundadora da Talento Incluir

Como adotar um modelo de governança nos conceitos ESG, se não há métricas que parametrizem o referido padrão? Como calcular o peso dos inúmeros fatores que envolvem a sustentabilidade, se não há um protocolo global que sirva de regra?

E mais do que isso: qual a confiabilidade das informações utilizadas para a implantação dos padrões ESG?

Eis um questionário (ainda sem respostas) que só cresce à medida que aprofundo os meus estudos sobre o tema.

Sobre o conceito, é possível achar uma série de artigos; porém, quando se trata de métricas, não há um parâmetro global que mensure práticas, nem que muito menos estabeleça metas às empresas que se beneficiam dos fundos ESG no mercado de capitais.

Como profissional que atua em favor das causas relacionadas à diversidade (ou seja, no eixo ‘S’ desse tripé), sou grande entusiasta desse novo modelo de governança – em especial, no que tange ao sistema financeiro queproporciona fundos de investimentos. Afinal, a história tem mostrado que as grandes transformações só ocorrem quando os interesses econômicos convergem no mesmo sentido.

Entretanto, é frustrante perceber que não existe uma unificação de protocolos que possibilite uma direção só quando se trata de ESG. Os critérios costumam se basear em convicções particulares daqueles que estão tomando as decisões dentro das empresas e a serviço de quem elas serão colocadas – e isso vale não só para os fundos de investimentos brasileiros como também para os fundos americanos e europeus. Tudo se baseia num simples retrato de ações que as empresas promovem, quase sempre relacionadas às questões ambientais.

Hoje, um fundo com critério ESG trabalha na lógica de utilizar algum índice que tenha a maioria das empresas como base inicial e fazer a exclusão de empresas que não alcançam critérios mínimos. Ao invés de começar colocando “no baldinho” as empresas que se destacam no “E”, no “S” e no “G”, a metodologia atual acaba reforçando indicadores que já estão sendo acompanhados, na sua maioria ambientais, e não forçando novas comparações, que poderiam equilibrar mais o “S” e o “G”.

Fica claro quão frágil é o embasamento que caracteriza esse ‘novo conceito’ tão exaltado, já que ele ainda pouco se faz presente em termos de benefícios concretos à sociedade.

Na Europa, mesmo que o cenário seja um pouco mais avançado, muita coisa ainda fica de fora. Raros são os indicadores sociais que apresentam a participação feminina e, mais raros ainda, são os que mencionam etarismo, religião, imigração e inclusão de indígenas. Não há qualquer compromisso com metas, tampouco com a valorização da diversidade. Aliás, raramente se vêem métricas envolvendo pessoas com deficiência e grupos LGBTQIA+.

Entretanto, nota-se que existe uma disposição em estimular a concorrência entre as empresas que contribuem com as pautas ESG, o que é algo bastante interessante e vai ao encontro das métricas que tanto defendo. O site Refinitiv, ligado à Bolsa de Valores de Londres, criou uma metodologia que subdivide as três letras que compõem a sigla ESG em 10 temas e definiu 450 indicadores para comparar quantas empresas estão melhores, iguais ou piores em cada eixo desse tripé. Contudo, apenas 186 são atualmente comparáveis (dessas, 30 para workforce).

Ainda assim, trata-se de um sinal de que os horizontes começam a se abrir para perspectivas mais concretas em relação ao ESG. Outro fato positivo é que, até o final deste ano, a União Europeia deve concluir uma regulamentação com métricas a serem utilizadas pelas empresas instaladas na UE, a Regulation 2020/852. Resta saber quais serão, mas espera-se que garantam as bases necessárias para avaliações de companhias, investidores e do próprio poder público.

Em suma, enquanto o mar de oportunidades é azul, a história mostra que precisa surgir um desbravador dessas águas para mostrar os caminhos aos demais.

A jornada, sem dúvida, é longa e cheia de desafios, mas é certa. Cabe a todos nós, portanto, acertar o prumo e seguir em frente.
Sobre Juliana Ramalho
Juliana Ramalho é COO e sócia-fundadora da Talento Incluir, uma consultoria pioneira em Diversidade e Inclusão no Brasil com soluções estratégicas para a promoção da equidade nas relações humanas das empresas. Além das operações da consultoria, é responsável por inovação, tecnologia e expansão internacional. Coordena ainda a UinHub, o primeiro marketplace voltado às pessoas com deficiência, e a UinStock, consultoria estratégica de marketing, publicidade e comunicação.
Com 20 anos de experiência no mercado financeiro, passou por diversas áreas no banco Santander, incluindo a superintendência de área de estratégia. É formada em engenharia pela Escola Politécnica – USP, pós-graduada e MBA pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade – USP e MBA internacional na Columbia Business School, em NYC.

 

Sobre a Talento Incluir

A Talento Incluir é uma consultoria pioneira em Diversidade e Inclusão no Brasil que oferece soluções estratégicas às empresas para a promoção da equidade nas relações humanas. Desenvolve projetos de Consultoria e Assessoria Executiva utilizando quatro pilares: Conscientização e Engajamento, Contratação, Acessibilidade e Consultoria Estratégica de Marketing e Comunicação. Fundada em 2008, a Talento Incluir já proporcionou emprego a mais de 7.000 pessoas com deficiência a partir de uma preparação exclusiva e diferenciada. Além disso, aplicou programas de treinamento para formar e fortalecer a cultura de inclusão em mais de 400 empresas de diversos setores em todo o Brasil, como Mercado Livre, Syngenta, Gol, Carrefour, Grupo Boticário, Raia Drogasil, Bradesco, Tereos, PwC PricewaterhouseCoopers, GRU Airport e AccorHotels, entre outras.
Para mais informações: www. talentoincluir.com.br .
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