Por Edson Violim Junior- professor do Centro Universitário das Américas.
No dia 11 de setembro de 2021 completa-se 20 anos do atentado terrorista planejado pela Al-Qaeda às torres gêmeas do World Trade Center na cidade de Nova York, o qual está intimamente ligado à invasão norte-americana no Afeganistão.
Em 2001, o presidente dos Estados Unidos na época, George W. Bush, ao saber que tal ato tinha sido perpetrado pelo grupo liderado por Osama Bin Laden e que ele se encontrava no Afeganistão sob a guarida daquele governo juntamente com o grupo responsável pelo atentado, solicitou então ao governo afegão a entrega do líder e dos outros responsáveis da Al-Qaeda.
Em razão da negativa do governo afegão ao seu pedido, os Estados Unidos iniciam o ataque e a posterior invasão do país e lá permanecem em um conflito que duraria quase 20 anos, a um custo de US$ 2,5 trilhões aos cofres norte-americanos, um conflito inserido na lógica da Guerra ao Terror que se findou agora com a fragorosa derrota do governo apoiado pelo EUA, tendo na presidência Ashraf Ghani que fugiu rumo ao Tajiquistão.
Através da criação do ISAF, sigla em inglês para Força Internacional de Apoio à Segurança, juntamente com a tropa americana, chegaram a ter no seu ápice (2012) mais de 150.000 homens, com a participação de aproximadamente uma dúzia de países divididos em cerca de 700 bases militares espalhadas pelo território afegão. Entretanto, apesar de todo esse contingente o Talibã jamais foi extinto.
Com a diminuição do contingente do ISAF (2014) os norte-americanos começaram a treinar e armar as Forças Armadas Afegãs usando equipamentos modernos recebidos do governo do EUA. A Força Aérea recebeu, por exemplo, 26 aviões A-29 Super Tucano da Embraer, nos quais muitos pilotos que inclusive já os conduziam fugiram para o Tadjiquistão quando se configurou a então vitória do Talibã.
Dentre as muitas explicações para se compreender a rápida derrota das Forças Armadas Afegãs diante do Talibã temos: o completo desinteresse dessas forças em lutar e arriscar suas vidas por um governo impopular além de um desastroso acordo de paz assinado em fevereiro de 2020 entre o governo Trump e o Talibã, visando a retirada das tropas norte-americanas e da OTAN, negociações prejudiciais às Forças Armadas afegãs. O atual presidente dos Estados Unidos Joe Biden limitou-se somente a seguir o plano e os resultados já conhecemos.
O Afeganistão localizado na Ásia Central com um relevo montanhoso e sem saída para o mar sempre foi sinônimo de dificuldades aos interesses de outros povos desde a antiguidade até períodos mais recentes com os britânicos no século XIX, Soviéticos no século XX e agora no século XXI com os Estados Unidos.
Quem comandava o Afeganistão 2001? O Talibã, palavra do idioma urdu que significa estudante. Comandou o país de 1996 a 2001, chegou ao poder na esteira da derrota da União Soviética que invadiu o Afeganistão (1979-1989). O grupo muçulmano sunita se caracteriza por uma visão fundamentalista e extremista do alcorão, acrescenta-se ainda especificidades culturais da etnia dominante, os Pashtuns. O grupo surgiu em 1988 possuindo fortes laços com o Paquistão, país muçulmano sunita vizinho do Afeganistão que possuem uma fronteira porosa possibilitando o transporte de uma mercadoria extremamente valiosa, o ópio, que sustentou durante anos o talibã.
O Talibã ficou conhecido por uma feroz repressão a tudo aquilo que não se enquadrava na sua visão medieval do mundo, acrescenta-se a misoginia, homofobia, perseguição a outras religiões e uma vasta relação de desrespeito aos Direitos Humanos. Durante o primeiro governo Talibã, liderado pelo mulá Mohammed Omar são destruídas duas grandes estátuas de Buda do século VI, no vale de Bamyan, além de estabelecerem uma repressão cruel às mulheres proibindo-as de estudar, de sair de casa sozinhas além de obrigá-las a utilizar a Burca, uma vestimenta feminina que cobre todo o corpo, incluindo o rosto e os olhos. Teremos uma reprise de tais modus operandi? Apesar da tentativa de se colocarem como mais moderados em 2021, os estudantes já deram mostra, neste curto intervalo de tempo, que continuam a serem os talibãs de sempre.
Muitos brasileiros podem se perguntar qual o interesse do Brasil pelo Afeganistão: a economia. O comércio entre os dois países foi de US$ 17,41 milhões em 2018, sendo quase todo o valor em exportações brasileiras. Em 2020 o Brasil teve um superávit de mais de US$ 37 milhões. Os principais produtos exportados pelo Brasil são carne de frango, milho e café. Apesar da relação econômica, não passa incólume a questão humanitária, pois a população ficará e sofrerá nas mãos de extremistas que praticaram atrocidades contra esse já pobre país e provavelmente continuarão a fazer.