
Escrito por Antonio Carlos Matos da Silva, “Equilíbrio, Estrutura e Estratégia” defende que corporações devem se orientar pelas melhores práticas dos produtores de vinho: entender os processos existentes, aplicar melhorias graduais e implementar inovação de forma estratégica
O que o cultivo de uvas e a elaboração de vinhos podem ter em comum com o mundo corporativo? Aparentemente nada, mas em uma série de imersões visitando diversas vinícolas e conhecendo grandes nomes que moldam a alma da região de Bordeaux, na França, o estrategista, especialista em acesso à saúde e apaixonado por vinhos, Antonio Carlos Matos da Silva, descobriu as mais ricas relações entre estes universos, extraindo delas lições de suma importância para empresas, gestores e colaboradores alcançarem o sucesso no mundo dos negócios. Essas lições foram apresentadas por Antonio Carlos em seu livro Equilíbrio, Estrutura e Estratégia – Como a arte do vinho pode inspirar a gestão empresarial, que será lançado em breve pela Editora Labrador.
O apaixonado por vinhos relata que durante a visita ao Château Gruaud Larose degustou vinhos de diversas safras, avaliando como as características da bebida evoluíram ao longo do tempo. A partir das informações transmitidas pela diretora técnica do local, relativas às mudanças implementadas no vinho durante os diversos anos, Antonio Carlos observou como a vinícola aprimorava suas práticas, desenvolvendo um processo de melhoria contínua.
Ante essa experiência, ele refletiu sobre seu cotidiano no mundo corporativo (Antonio Carlos atuou por mais de duas ´décadas em farmacêuticas multinacionais e nacionais), concluindo que raras empresas tinham esse tipo de comportamento, caracterizado pela retrospectiva tão detalhada que facilita a compreensão sobre os fatores que impulsionam o sucesso ou apresentam oportunidades de melhoria. Muito pelo contrário, a prática recorrente, segundo ele, é novos gestores chegarem implementando mudanças sem considerar o que já foi feito (de bom e ruim) no passado.
Entendendo que as corporações deveriam se orientar pelas melhores práticas executadas pelos produtores de vinho, a saber: entender os processos existentes, aplicar melhorias graduais e implementar inovação de forma estratégica, Antonio Carlos foi atrás de mais analogias entre os dois universos a fim de extrair lições que pudessem ser aproveitadas por gestores empresariais. No livro, como dito, mostra algumas delas. “O livro explora as analogias entre vinificação e gestão empresarial, com cada capítulo abordando aspectos que reforçam essa relação”, diz.
O capítulo introdutório, por exemplo, relaciona a produção de vinho com a criação e a implementação de planos de negócios. Nele, o autor compara o ciclo do vinhedo com o ciclo empresarial para mostrar como em ambos é preciso dominar os processos para garantir o sucesso da empreitada. As etapas de preparação para a colheita (verão); colheita e início da fermentação (outono); dormência das videiras e amadurecimento dos vinhos (inverno); e despertas das vinhas e preparação para o engarrafamento (primavera) coincidem, nas empresas, com as fases de planejamento estratégico; execução dos planos; comunicação dos planos e monitoramento das métricas; e revisão e alinhamento das estratégias, respectivamente.
No capítulo subsequente, Antonio Carlos explora a analogia entre terroir e cultura organizacional. “No mundo da vitivinicultura, o terroir se refere ao solo, ao clima, à paisagem e às práticas de cultivo que são exclusivas de uma região. Da mesma forma, a cultura organizacional é influenciada por um conjunto complexo de fatores, incluindo a história da empresa, sua missão, valores, normas e o estilo de liderança”, explica. Conforme especialista em acesso à saúde, ambos são as bases visíveis e invisível sobre o qual tudo se constrói. Para criar uvas concentradas e complexas, diz o apaixonado por vinhos, a videira deve ser desafiada, forçada a buscar nutrientes em profundidade. “O mesmo princípio se aplica às empresas: a chave para o sucesso duradouro está em uma cultura forte, forjada no desafio”. afirma.
Após debruçar-se sobre a videira, o autor adentra, no capítulo dois, ao campo da vinificação, traçando um paralelo entre o processo de produção de vinho e a estratégia empresarial. Tanto em um como no outro, ressalta o estrategista, não são as ferramentas que importam, mas sim como são usadas. “Seja no mundo do vinho, seja no mundo dos negócios o sucesso não é fruto do acaso. Ele é resultado de um processo bem orquestrado, no qual as ferramentas certas são usadas de maneira inteligente”, diz. Para a definição e implementação de uma boa estratégia, aponta Antonio Carlos, três elementos são fundamentais: diagnóstico, direção estruturada e ações coerentes.
O terceiro capítulo de Equilíbrio, Estrutura e Estratégia traz uma das mais bonitas metáforas estabelecidas por Antonio Carlos: o blending de uvas como equivalente à diversidade no ambiente de trabalho. Segundo o autor, um vinho tende a ficar mais próximo da perfeição quando resulta de um processo que seleciona as melhores características de múltiplos vinhos. “No âmbito corporativo, a formação de equipes eficazes também segue um raciocínio semelhante ao do blending de vinhos. A construção de times robustos se beneficia enormemente de uma mistura diversificada de perfis, incluindo experiência, pensamento, formação acadêmica, gênero, idade, entre outros aspectos”, afirma.
Adaptação e liderança é o título do quarto capítulo do livro. Conforme o autor, tanto as empresas quanto os produtores de vinho estão inseridos em cenários repletos de desafios, que exigem adaptação e aprendizagem contínua. Com relação à liderança, o especialista em acesso à saúde compara o amadurecimento de um líder ao desenvolvimento das uvas, destacando que em ambos os casos trata-se de um processo que exige cuidado, paciência e conhecimento profundo. “Do mesmo modo que a maturação das uvas, o desenvolvimento da liderança é um processo contínuo”, explica.
Outra analogia bem interessante é apresentada no quinto capítulo do livro, quando o autor compara a análise sensorial na degustação de vinhos à teoria de customer experience (CX) nas empresas. Nesta ou naquela, diz ele, as emoções desempenham papel crucial e devem ser levadas em consideração para aprimorar o produto final. “Assim como um bom vinho é capaz de despertar diferentes sentimentos em cada pessoa, os produtos e serviços que as empresas oferecem precisam ser capazes de tocar emocionalmente seus clientes, criando um elo que vai além da transação comercial”, diz.
Muito provavelmente o aspecto no qual o mundo do vinho tem mais a acrescentar ao mundo dos negócios: a sustentabilidade é o tema do sexto capítulo da obra. Nessa parte, Antonio Carlos explora a interligação entre viticultura sustentável e a responsabilidade corporativa e mostra como as empresas podem adotar princípios semelhantes para enfrentar os desafios globais de sustentabilidade. Segundo o estrategista, por ser possível rastrear cada passo de sua produção, o vinho é uma vitrine de boas práticas no que diz respeito a práticas sustentáveis para as empresas.
O sétimo e último capítulo aborda a importância da tradição e da inovação para a vitivinicultura e para os negócios, apontando que o segredo do sucesso reside no equilíbrio entre esses dois aspectos. A tradição, explica o autor, dá uma base sólida, oferecendo identidade e consistência ao vinho e às empresas. “Já a inovação possibilita que tanto um quanto o outro se mantenham relevantes em um mercado dinâmico e em constante mudança”, conclui.
Sobre o autor
Antonio Carlos Matos da Silva é estrategista, especialista em acesso à saúde e autor do livro Equilíbrio, Estrutura e Estratégia – Como a Arte do Vinho Pode Inspirar a Gestão Empresarial. Formado em farmácia, possui MBA em administração e marketing. Tem uma extensa carreira em grandes empresas farmacêuticas, entre as quais Roche, GlaxoSmithKline(GSK) e Cristália.
Ficha técnica:
Título: Equilíbrio, estrutura e estratégia
Subtítulo: Como a arte do vinho pode inspirar a gestão empresarial
Número de páginas: 256
Formato: 16×23
ISBN: 978-65-5625-790-7
Editora: Labrador