Diante dos problemas ambientais que o mundo vem sofrendo, as pautas de sustentabilidade se tornaram mais frequentes.
Empresas de diversos setores têm buscado se atualizar quanto o uso de energias renováveis, economia de água e o descarte correto de materiais.
Para esclarecer algumas dúvidas sobre ações sustentáveis dentro dessas grandes empresas, conversamos com o gestor Luiz Otávio Goi Jr., especializado em sustentabilidade empresarial, confira:
Economia S/A – Como medir o nível de emissão dos gases de efeito estufa por parte das empresas?
Luiz Otávio Goi Jr – Os gases de efeito estufa deve ser medidos e avaliados através de um inventário que deve seguir alguma metodologia padronizada. Esse inventário de GEE (Gases de efeito estufa) deve contemplar os três escopos de emissão: Escopo 1 – Emissões diretas; Escopo 2 – Emissões indiretas de energia e Escopo 3 – Outras emissões indiretas provenientes de fontes não pertencentes ou controladas pela empresa.
A metodologia mais utilizada no Brasil para esse inventário é o GHG Protocol que foi desenvolvida nos Estados Unidos em 1998 e é a mais aplicada ainda nos tempos atuais.
Economia S/A – Qual a estratégia mais eficaz e benéfica ao planeta, diminuir a emissão de gases ou plantar árvores?
Luiz Otávio Goi Jr – Quando falamos da emissão de gases de efeito estufa, lidamos com alguns paradigmas complexos como por exemplo o entendimento popular de que as florestas são o pulmão do mundo. Em partes, sabemos que a fixação de CO2 por parte das árvores é uma atividade extremamente importante e precisa ser preservado, porém, vale assimilar que a vida marinha tem uma importância muito grande nesse tema visto que a maioria do CO2 gerado pela humanidade é fixada pelo fitoplancton marinho.
Entrando um pouco mais nesse detalhe, segundo algumas pesquisas realizadas pelo FMI (Fundo monetário internacional) percebeu-se que uma baleia pode fixar cerca de 30 Toneladas de CO2 em toda sua vida além disso, seu processo comum de subir até a superfície para eliminar suas fezes que são ricas em ferro tornam o local ideal para a multiplicação desse grupo de algas altamente fixadoras de CO2.
Com isso, é percebido que existe no mar uma grande oportunidade de cuidado a vida marinha para otimizar esse processo natural tão importante, mas como nem tudo são flores, também é pesquisado que com uma quantidade de CO2 alta fixada por esses seres é gerada uma acidificação das águas do mar o que pode num futuro gerar a redução dessas populações. Com tudo isso eu entendo que o melhor caminho seja a busca de redução de CO2 (o que pode ser feito em alguns casos de forma até simples) e juntamente com isso proteger as áreas verdes e mares, se não atuarmos em conjunto com as duas frentes teremos uma ação desbalanceada.
Economia S/A – Como os novos empresários podem se programar para iniciar uma empresa com baixos índices de emissões de gases poluentes?
Luiz Otávio Goi Jr – As empresas precisam colocar a gestão do clima como prioridade nas pautas estratégicas. Esse tema é sério e importante, mas precisa ser muito discutido. Existem empresas que queimam combustíveis fosseis por conviver em zonas de conforto, sendo que existem tecnologias atuais que fornecem resultados melhores e muito mais eficientes em relação a emissão de gases. As empresas que queiram atuar com baixa emissão precisam estudar fontes de energia renováveis, evitar o uso de transportes individuais em excesso, fomentar o uso de bicicletas ou até mesmo o Home Office, buscar estratégias de evitar viagens em excesso de avião e evitar a queima de combustíveis fosseis. Os governos também podem ajudar mais nesse tema, aumentando a divulgação e oferecendo benefícios para empresas com melhor eficiência nesse tema, dando aquele empurrãozinho para que quem está na inércia passe a atuar.
Economia S/A – Quais as estratégias que devem ser adotadas pelas empresas que já emitem ao longo de muitos anos tantos gases poluentes na atmosfera da terra?
Luiz Otávio Goi Jr – Essas empresas precisam entender seu escopo e buscar otimização imediata. A compra de creditos de carbono (nome comum dado a empresas que compensam parte de suas emissões comprando creditos de outros que realizaram plantio de arvores) deve ser usado como recurso imediato, porém buscar a evolução nas emissões é fundamental. O Brasil é um país excelente para uso de energias renováveis e esse pode ser o primeiro passo. Após isso, a busca de frotas mais eficientes em transportes, fomento de transportes coletivos e outras frentes semelhantes podem ser o segundo passo e a partir daí, outros projetos surgem e pouco a pouco evoluem. A questão mais importante é a empresa estabelecer metas e projetos a longo prazo para que o tema não esfrie ou fique sem atuação.
Economia S/A – Luiz você possui um trabalho muito focado em sustentabilidade, qual foi seu maior projeto desse sentido em uma empresa?
Luiz Otávio Goi Jr – Eu tenho diversos projetos importantes nesse sentido até hoje. Já estive envolvido em projetos de energia limpa, tratamento de efluentes para reuso de água, reaproveitamento de materiais, aproveitamento de água da chuva e muitos outros, porém os projetos que mais me trouxeram valor agregado foram os que pude realizar com as pessoas. Dentro do cenário atual diversas frentes de trabalho e investimentos podem ser feitos, porém se não existirem condições das pessoas levarem os conceitos de sustentabilidade para dentro das suas casas estaremos basicamente “Enxugando gelo”. Os projetos que pude realizar no trabalho de conscientizar e fazer com que as pessoas reflitam no futuro do planeta foram e continuarão sendo os mais importantes para mim. Mais importante do que um projeto bonito no papel é poder fazer a diferença junto as pessoas.
Economia S/A – Você acredita num setor empresarial 100% ecológico no futuro?
Luiz Otávio Goi Jr – Eu acredito, mas entendo que estamos longe. Eu acredito nisso porque será em um futuro próximo uma necessidade básica. A somatória do consumidor ficando mais exigente ao tema, os órgãos fiscalizadores aumentando a régua através de legislações mais apertadas, a cobrança mundial nos temas de sustentabilidade e a transversalidade do assunto farão com que tudo evolua para esse caminho. Eu entendo que poderia ser um pouco mais rápido, mas acredito que em alguns anos teremos empresas referência nesse tema puxando a fila do caminho 100% sustentável.
Economia S/A – Por que o Brasil ainda é tão atrasado nas questões renováveis e sustentáveis?
Luiz Otávio Goi Jr – Entendo que quanto a energia renovável, o Brasil vem evoluindo e inclusive pela condição geográfica tem tudo pra crescer ainda mais. Quanto a tratativa da sustentabilidade, temos um problema que é a velocidade da implementação de legislações pela burocracia dos processos nacionais. Além disso, o Brasil impacta empresas de uma forma muito rigorosa com despesas variadas em impostos e com isso, fica difícil a empresa se interessar em realizar altos investimentos junto a carga tributária excessiva. Entendo que um passo foi dado e após anuncio oficial de que o país será carbono neutro até 2050, como foi anunciado pelo presidente da republica na cúpula do clima já é um avanço.