Pesquisa aponta que, ao associar alimentação ao consumo de brinquedos e praticar publicidade infantil, a rede de fast food contribui para impactos na saúde das crianças e no meio ambiente
POR: 2PRÓ Comunicação
A pesquisa ” Infância plastificada – O impacto da publicidade infantil de brinquedos plásticos na saúde de crianças e no ambiente “, encomendada pelo programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Química Verde, Sustentabilidade e Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), traz dados inéditos que estimam que, no Brasil, entre 2018 e 2030, serão produzidos 1,38 milhão de toneladas de brinquedos de plástico. Entre as empresas que mais contribuem para isso, está o McDonald’s, que distribui cerca de 1,5 bilhão de brinquedos por ano no mundo, o que a torna a maior distribuidora de brinquedos – ultrapassando, inclusive, as duas maiores fabricantes de brinquedos do globo.
Lançada em 2020, a pesquisa analisou o caso “McLanche Feliz”, combo infantil vendido na rede de fast food desde junho de 1979, que, por meio de diferentes estratégias comerciais dirigidas a crianças, busca associar alimentação com entretenimento, via desejo de consumo dos brinquedos ofertados. A empresa lança, mensalmente, itens exclusivos e colecionáveis, despertando na criança a vontade de conseguir todos em um curto espaço de tempo. Essa prática estimula, ainda, o consumo irrefletido e, consequentemente, mais descarte.
No aspecto ambiental, a pesquisa revela que, ao misturar o plástico com outros materiais – como pigmentos, brilho e glitter, estratégia comum para chamar ainda mais a atenção do público infantil – o processo de reciclagem se torna mais complexo, caro ou até mesmo inviável. Na prática, isso significa que as chances de que brinquedos plásticos venham a ser reciclados são baixas, fazendo com que esses itens permaneçam no meio ambiente por centenas de anos.
“Associar brinquedo ao lanche é uma estratégia muito eficiente do McDonald’s para vender mais e fidelizar clientes desde muito novos. É preciso entender que essa é uma prática abusiva e ilegal de publicidade infantil que estimula o ciclo ‘publicidade-desejo-consumo-descarte’ que, conforme demonstrado na pesquisa, é danoso para as crianças e para o planeta. Entre as consequências da publicidade infantil, estão a obesidade infantil e o estresse familiar”, JP Amaral, mobilizador do programa Criança e Consumo.
Show de abusividade
Para além do lanche com brinquedo, o McDonald’s também se utiliza de outras estratégias de publicidade infantil , que já foram denunciadas pelo Criança e Consumo em outras ocasiões. No caso mais recente, julgado em agosto de 2020, os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) mantiveram, com ineditismo, em segunda instância, sentença que reconheceu a abusividade e ilegalidade do “Show do Ronald”, realizado pela rede de fast food em creches e escolas de educação infantil, públicas e privadas, de todas as regiões do país. Os desembargadores concluíram, por unanimidade, que a ação promovida pela empresa configurava estratégia de publicidade infantil – e não uma atividade meramente educativa.
Em 2018, o Criança e Consumo lançou a campanha ” Abusivo Tudo Isso ” contra a rede, em razão da prática publicitária abusiva e ilegal direcionada a crianças, realizadas pela oferta e comercialização de brinquedos associados à venda de produtos alimentícios por meio do combo McLanche Feliz. A campanha fez com que a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, instaurasse um processo administrativo para investigar a conduta contra a empresa. Confira aqui todas as ações do Criança e Consumo sobre o McDonald’s.
Sobre o Criança e Consumo
Criado em 2006, o programa Criança e Consumo , do Alana, atua para divulgar e debater ideias sobre as questões relacionadas à publicidade dirigida às crianças, bem como apontar caminhos para minimizar e prevenir os malefícios decorrentes da comunicação mercadológica.
Sobre o Instituto Alana
O Instituto Alana é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que aposta em programas que buscam a garantia de condições para a vivência plena da infância. Criado em 1994, é mantido pelos rendimentos de um fundo patrimonial desde 2013. Tem como missão “honrar a criança”.