*Por Alexandre Crivellaro, diretor de inteligência de mercado da ABComm
O mercado de artigos de vestuário usados vem crescendo muito nos últimos anos no mundo e no Brasil. Dados da GlobalData e da ThredUp estimam que o dinheiro movimentado pelo setor saltará de US$ 28 bilhões em 2019 para US$ 64 bilhões em 2028, um crescimento médio de pouco mais de 10% a.a., um bom número se comparado com a estimativa de crescimento médio global de 2% a.a. para o comércio tradicional de roupas novas.
Esse crescimento deve-se a vários fatores importantes, impulsionados pelos meios de comunicação e pelas redes sociais. É certo que as pessoas estão interessadas em suas marcas preferidas, mas também em outros pontos como aspectos ambientais, sociais e econômicos.
Nesse sentido, a economia linear, de produção em massa, perde espaço para que a economia circular, em que os produtos podem ser reutilizados e reaproveitados antes de ir para algum lixão, ganhe força.
O principal motivo é o crescimento da produção de roupas. Estima-se que mais de 100 bilhões de peças são produzidas anualmente, o que é duas vezes mais do que se produzia há anos atrás, sendo que a maioria das pessoas usa apenas 30% das peças no guarda-roupa, segundo a GlobalData e Green Story Inc.
Essa indústria é responsável por cerca de 10% das emissões globais de carbono e quase 20% do consumo de água, o que representa mais energia do que os setores de aviação e transporte marítimo juntos.
Por isso, comprar peças usadas deixou de ser algo malvisto e vem se tornando algo cool e descolado, o processo passa a ser parecido como comprar um objeto de arte ou mesmo um veículo usado. Só depende da conservação.
Os jovens estão adotando a moda de segunda mão mais rapidamente do que qualquer outra faixa etária. O perfil médio do consumidor de peças de roupas usadas é formado por mulheres entre 18 e 45 anos, de classe média e média alta, e antenadas nas discussões socioambientais. Os homens são conhecidos por usar a roupa até acabar – o que dificulta a entrada nesse segmento –, mas isso pode mudar em breve.
Os “millennials” (nascidos entre 1980 e 1996) e a geração Z (nascidos depois de 1997) correspondem a cerca de 46% da população global, então o mercado não pode ignorar as tendências dessa fatia de consumidores, que estão totalmente conectados e antenados para as questões sócio ambientais.
Segundo a McKinsey, da geração “Z”, cerca de 90% acreditam que as empresas precisam lidar de forma séria com problemas ambientais e sociais, e que não teriam problemas em deixar de comprar uma marca que não se comprometesse com essas ideias.
No Brasil existem muitos players nesse mercado, que está em pleno crescimento, com taxas acima de 50% a.a. Podemos destacar aqui os quatro principais, que têm o maior volume tráfego: Enjoei, Repassa, Etiqueta Única e Troc, além de outros menores e uma grande parte que migrou do off-line diretamente para redes sociais.
Estima-se que a soma das vendas do segmento tenha sido entre R$ 1,1 bilhão e 1,3 bilhão em 2021, com uma alta concentração em poucos sites, ou seja, os quatro principais players podem representar aproximadamente 80% a 85% de todas as vendas digitais.
Até a produção deste artigo, as ações da Enjoei tiveram queda de 68% desde o lançamento em 2020. Mas, como todo novo negócio, leva-se um tempo para entender os principais custos e otimizar processos. A internet demanda altos investimentos na captação de usuários, e em profissionais capacitados, e esses custos tendem a cair ao longo do tempo.
A Enjoei, por exemplo, fez parceria com a C&A, A Renner fez investimentos e projetos importantes na Repassa, a Arezzo comprou 75% da Troc, e o Grupo Iguatemi comprou uma fatia da Etiqueta Única, um site de artigos de luxo. Esse processo acelera a entrada dessas marcas em uma economia circular.
Esse tipo de apelo também vem sendo usado em vários países, por exemplo, a Ikea, importante fabricante de móveis com atuação mundial, criou um programa de compra e venda de itens de segunda mão da marca, com a finalidade de ajudar os compradores a se desfazerem dos seus produtos e garantir o reúso dos itens, que poderiam ser descartados ou inutilizados.
*Alexandre Crivellaro é diretor de inteligência de mercado da ABComm, associação que fomenta o e-commerce com conhecimentos relevantes e auxilia na criação de políticas públicas para o setor – abcomm@nbpress.com
Sobre a ABComm
A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) surgiu para fomentar o e-commerce com conhecimentos relevantes e auxiliar na criação de políticas públicas para o setor. A associação reúne representantes de lojas virtuais e prestadores de serviços nas áreas de tecnologia, mídia e meios de pagamento, atuando frente às instituições governamentais, em prol da evolução do mercado. A entidade sem fins lucrativos é presidida por Mauricio Salvador e conta com diretorias específicas criadas para aprofundar discussões, entre elas: Omnichannel; Relações Governamentais; Mídias Digitais; Relações Internacionais; Meios de Pagamento; Capacitação; Desenvolvimento Tecnológico; Empreendedorismo e Startups; Jurídica; Métricas e Inteligência de Mercado; Crimes Eletrônicos; e Marketing. Para mais informações, acesse: www.abcomm.org