O mercado financeiro antes da pandemia da COVID-19 tinha uma taxa de juros de 4,5% ao ano, o que parecia suficiente, porém o agravamento da crise forçou o Banco Central a reduzir ainda mais esta taxa até chegar em 2% a.a.
Por: Tuddo Comunicação
A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do Banco Central que define a taxa básica de juros do Brasil, na última quarta-feira (17), em aumentar a taxa de juros de 2% para 2,75% ao ano, causou impacto no meio econômico. Embora já fosse esperado, o mercado esperava uma alta de 0,5%.
“Após quase 6 anos sem subir a taxa de juros, um aumento acima da estimativa do mercado pode surpreender à primeira vista, mas se analisarmos mais a fundo, esta decisão pode ser vista com bons olhos. Seria como dar uma dosagem maior do remédio no início do tratamento, combatendo mais rapidamente a doença, mas como consequência a dosagem total deste medicamento seria menor. Lembrando que a intenção com o aumento da taxa de juros é o controle da inflação”, comentou Guilherme Blotta, Head de Investimentos e sócio da Redoma Capital.
“Claro que existem riscos a serem monitorados perante este novo cenário, destacando a situação fiscal do governo e o desaquecimento da economia. Com juros mais elevados, naturalmente aumentam os custos da dívida do governo, então, como a situação fiscal não está confortável, esse risco toma um destaque ainda maior. Além da situação complicada nas contas do governo, sabemos que o momento também não está nada fácil tanto para as empresas quanto para as famílias. Aumentar o custo do capital tende então frear ainda mais a economia”, completa Guilherme.
Este é um momento que requer uma revisão nas estratégias de investimento e as aplicações em Renda Fixa, que tinham perdido muito espaço, voltam a ganhar a atenção dos investidores. Quando questionado sobre este assunto, Blotta comenta. “É preciso tomar cuidado na escolha destas aplicações, muitos investidores associam renda fixa a um investimento conservador, mas não é sempre assim. Dependendo do indexador utilizado, do prazo e do emissor do título estas aplicações podem sofrer grandes oscilações, sejam elas positivas ou negativas”.
O Sócio da Redoma Capital destaca também sobre um movimento chamado “carry trade”, que ocorre quando um investidor toma dinheiro emprestado em um país desenvolvido a taxas muito baixas para investir em países subdesenvolvidos a taxas mais elevadas, tendo como lucro a diferença de juros.
Este movimento era muito comum no Brasil, mas reduziu significativamente com a queda dos juros por aqui. Estima-se que isso possa voltar a acontecer, o que pode aumentar a quantidade de dólares no país e, consequentemente, a valorização do Real frente ao Dólar. Existem muitas outras variáveis que influenciam no câmbio, o que torna difícil de prever esta relação dólar x real, mas sem dúvidas o “carry trade” é algo que precisa estar no radar.
Outra preocupação dos investidores é com o impacto na Bolsa de Valores, que vem ganhando muito espaço entre os brasileiros. A quantidade de pessoas físicas na Bolsa passou de 600 mil em 2017 para 3 milhões em 2020.
“O índice Bovespa é composto por diversos setores. Acredito em um baixo impacto no ibovespa, mas sabemos que alguns setores serão favorecidos com esta mudança de cenário, enquanto outros podem ser prejudicados. Então o investidor deve saber identificar quais os setores que podem sair ganhando e escolher as melhores empresas neste segmento, e claro verificar se os preços são atrativos”, afirma Guilherme.
Como dica final, Blotta recomenda que os investidores procurem sempre consultar um especialista de confiança, e destaca: “Não existe uma receita padrão, cada investidor tem uma necessidade específica, o que demanda uma solução personalizada”.