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O futuro da indústria química no Brasil

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Estratégico para o desenvolvimento das principais economias mundiais, a falta de investimentos dificulta o avanço da produção nacional de químicos

POR Grupo Mostra de Ideias

Devido a mudanças no cenário econômico durante e pós-pandemia, a indústria química brasileira perdeu relevância frente às importações. Números da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) mostram que, no acumulado até outubro de 2021, os produtos químicos estrangeiros trazidos de fora somaram US$ 48,5 bilhões, uma alta de 43,4%. Já as exportações alcançaram US$ 11,5 bilhões, um crescimento de 27% na comparação anual. Para 2021, a Associação projeta um déficit comercial de US$ 45 bilhões.

A diferença compromete a criação de um complexo industrial que contribuirá para o desenvolvimento do Brasil. Mercadorias químicas possuem um valor agregado elevado, tanto no Brasil quanto no mundo, além de servirem como matéria-prima para a maior parte dos produtos manufaturados. Eles estão presentes nas embalagens dos supermercados, nos fertilizantes utilizados pelo agronegócio, nas tintas das nossas casas, entre outros.

Países que investem nesse segmento, como a Alemanha, a China e os Estados Unidos, destacam-se em relação aos demais, principalmente no comércio internacional, pela capacidade de gerar riqueza através da exportação de químicos a países como o Brasil. Na pandemia, os brasileiros viram essa importância na prática. Para evitar a disseminação do vírus, itens como o álcool em gel, os desinfetantes, os sabonetes, as seringas, os materiais hospitalares, entre outros, tornaram-se mercadorias disputadas.

Naquele momento, a sociedade teve a oportunidade de se questionar sobre a necessidade do investimento nessa área estratégica, porém, conforme é possível notar atualmente, essa reflexão não aconteceu. A política cambial de dólar apreciado, o aumento do preço do combustível e a recente redução de 10% das alíquotas dos impostos de importação sobre 87% das mercadorias estabelecidas na Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) são exemplos das más condições de competitividade da já fraca indústria química brasileira. Em comparação a outros países com baixo custo de produção, o Brasil não tem como competir.

Dados da Abiquim revelam que, enquanto a carga tributária no Brasil representa entre 40% e 50% do faturamento das indústrias, nos Estados Unidos, ela é de 20%. E os resultados negativos desse desequilíbrio já podem ser notados: só em outubro de 2021, segundo a Associação, o Brasil importou US$ 6,2 bilhões de produtos químicos, alcançando um volume recorde de 6,1 milhões de toneladas e uma alta de 4,5% se comparado ao mês anterior e de 31,9% frente ao mesmo mês em 2020.

Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada em outubro de 2021, trouxe outra explicação para esse desequilíbrio: a dificuldade em conseguir insumos. 18 dos 25 setores da indústria de transformação, analisados durante a criação do levantamento, disseram sofrer com a compra de bens de produção no mercado doméstico. O mesmo questionário mostrou que o problema atinge 79% da indústria química.

A diretora administrativa da Zorzin Logística, Gislaine Zorzin, responsável por coordenar uma empresa que é referência no transporte de cargas perigosas há mais de 50 anos, explica a baixa eficiência na infraestrutura brasileira com base no setor em que ela atua. Na visão da empresária, se o segmento responsável por fazer com que as mercadorias cheguem aos locais de compra continuar enfrentando problemas estruturais, como a baixa qualidade das rodovias, os combustíveis caros e as dívidas com roubo de mercadorias ou caminhões, qualquer política industrial não terá o sucesso esperado.

“Por causa das dimensões continentais do Brasil, qualquer investimento que melhore as condições dos transportadoras, independente do modal, contribui para o avanço do nosso País como um todo”, afirma Gislaine. Contudo, ela complementa: “isso só acontecerá se melhorarmos as nossas estratégias de segurança, aderirmos mais ao uso de tecnologias e cumprirmos com rigidez as obrigações trabalhistas e as diretrizes estabelecidas pelas instituições públicas, como a Agência Nacional de Produtos Terrestres (ANTT)”.

O custo com o transporte rodoviário de cargas é alto. No caso das cargas químicas ou perigosas, que, em situações de acidentes, possuem uma preocupação adicional devido aos riscos ao meio ambiente e à saúde humana, então outros gastos são incluídos na conta das transportadoras. “São mais de 400 leis, decretos, portarias e regulamentos que precisamos estar frequentemente atualizando e fiscalizando junto aos nossos motoristas profissionais. Além disso, químicos são produtos muito valiosos, logo, atraentes a ladrões, ou seja, o gerenciamento de risco deve ser impecável. Tudo isso custa, e não é pouco”, finaliza Zorzin.

A Zorzin Logística, que realiza operações na região Sudeste e no Mercosul, está há mais de 10 anos sem nenhum roubo de cargas. O resultado se deve ao trabalho de monitoramento do motorista e da carga através de um sistema de rastreamento via softwares e treinamentos anuais realizados internamente com os caminhoneiros e com os operadores logísticos. Dessa forma, apesar do cenário desfavorável na indústria química, os transportadores encontram maneiras de reduzir ao máximo as despesas e facilitar o ambiente de negócios para os seus clientes.

Sobre Gislaine Zorzin:

Gislaine Zorzin é formada em logística pela Uniradial São Paulo e atua como diretora administrativa e de novos negócios na Zorzin Logística. Além disso, faz parte do Projeto 25, desenvolvido pela Associação Brasileira de Transporte e Logística de Produtos Perigosos (ABTLP) e da CMT – Comissão de Manuseio e Transportes da ABICLOR.

Crédito: divulgação
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