* Por Pedro H.Jasmim, sócio do Grupo Berlinn, holding de brand solutions e agência de brand experience , professor de gestão de entretenimento e experiência da PUC-RJ
O mercado de entretenimento brasileiro é um verdadeiro gigante, cheio de diversidade e energia. Tem um potencial incrível para geração de renda pro país, é um setor que facilmente é aquecido e possui um herança histórica e cultural muito rica. Empreendendo nesse mercado e dando aula como professor no curso de Gestão de Entretenimento e Experiências da PUC Rio, percebo o quanto esse setor é vibrante e fundamental para nossa economia e cultura nacional. Como entusiasta do setor acredito que é fundamental construir análises críticas ou pontuações sobre a temática.
O Brasil tem uma força econômica impressionante no entretenimento, algo que vem não só da rica herança cultural, mas também da alegria e paixão do nosso povo. Desde grandes festivais como o Rock in Rio até pequenos shows em comunidades, o entretenimento está no coração da identidade do brasileiro. Um exemplo recente do impacto econômico desse setor foi o show de encerramento da turnê da Madonna em Copacabana, que movimentou cerca de 231 milhões de reais na economia carioca. Eventos desse porte mostram como a indústria pode impulsionar o turismo, o comércio e diversos serviços. E possui muito potencial, este que na grande maioria das vezes, não chega nem perto da capacidade máxima. Mas, a pergunta certa é: por que? Mesmo sabendo que é extremamente lucrativo e que possui uma adesão tão forte?
Apesar de todo esse potencial, o mercado de entretenimento no Brasil está enfrentando alguns desafios. Recentemente, vimos o cancelamento de duas grandes turnês: “Ludmilla in the House”, da Ludmilla, e “A Festa”, que comemoraram os 30 anos de carreira de Ivete Sangalo. Os dois cancelamentos no mesmo dia acenderam um alerta entre produtores e profissionais do setor. Muita gente começou a se perguntar o que estava acontecendo. Havia especulações de que o problema poderia estar na produtora responsável por ambas as turnês. No grupo de produtores de eventos do Rio de Janeiro, onde participei junto com os principais profissionais do mercado carioca, muitas opiniões foram discutidas, mas ficou claro que a situação é complexa.
Minha análise considera não só essas discussões, mas também minha própria experiência no mercado, e dentro das salas de aula. Alguns dos fatores que podem ter contribuído não só para esses cancelamentos mas para um alerta de crise. Após a pandemia de COVID-19, vimos um aumento significativo nas festas e festivais. A oferta de entretenimento triplicou, com inúmeras novas opções de todos os tamanhos, estilos e para todos os tipos de público. Nas grandes capitais, a sazonalidade deixou de ser um fenômeno: agora, há eventos a toda hora, todas as semanas, em qualquer época do ano. E esse ‘boom’ de eventos aqueceu o mercado, pois havia uma demanda reprimida durante a pandemia. E isso impactou diretamente os cachês dos artistas, mas não só. Toda a cadeia de produção foi afetada: fornecedores de luz, som, estrutura, cenografia e outros viram um aumento nos custos. Em um curto período, os preços, que haviam caído durante a pandemia, subiram exponencialmente. Produzir eventos ficou ainda mais caro, tornando mais difícil lotar um evento. Além disso, a cultura do “VIP” trouxe um desafio adicional, pois muitas pessoas esperam entrar de graça ou a preços reduzidos, desvalorizando o pagamento por esses serviços.
Para enfrentar esses desafios, os produtores precisam ser criativos e buscar maneiras de atrair o público, porém acabam sempre esbarrando em uma barreira não tangível que é o poder aquisitivo do brasileiro, que não acompanhou essa onda, e é insuficiente para esses recortes. Sabemos que em uma economia com altos e baixos, afetando o dinheiro que as pessoas têm disponível para gastar em entretenimento. Em tempos difíceis, o lazer é um dos primeiros cortes, então de fato é cada vez mais difícil vender ingresso.