POR: Mombak Comunicação
Passada a Conferência da ONU sobre o Clima, realizada em Glasgow, Escócia (COP 26), é momento de pragmática reflexão sobre o modo como transformaremos as ricas discussões ali tratadas em ação concreta e palpável. E não há dúvida: a iniciativa privada será a grande protagonista da concretização da nova agenda climática.
Para quem vê de longe, o cenário pós COP 26 pode expressar uma aparente assimetria entre a expectativa da sociedade – sedenta por transformações sustentáveis – e a falta de capacidade governamental de articulação em prol da proteção das florestas ou da redução das metas de emissão de CO2 ou de metano, por exemplo.
De fato, a COP 26 trouxe extensa e desafiadora agenda para os próximos anos que prevê a redução gradativa do uso do carvão, coloca em xeque o financiamento de combustíveis fósseis e avança nas regras sobre o mercado internacional de carbono, visando limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, ainda que com metas insuficientes para tal ambição e que serão revistas na próxima COP. Em suma, enormes desafios que demandam forte ação orquestrada.
É exatamente nesse contexto que as grandes corporações podem ter um papel de destacado protagonismo. O dinamismo da iniciativa privada potencializa essa necessidade de ação rápida, assertiva e contundente, com sua característica aptidão por planejamento eficaz e execução assertiva e capacidade de inovação, que pode acelerar uma transição justa e inclusiva. Além disso, é natural que o setor produtivo tenha mais fácil acesso a capital, amplamente disponível para iniciativas ESG (sigla para ambiental, social e governança).
Para tanto, é preciso que as empresas de fato se engajem com a agenda climática discutida na COP 26. A boa notícia é que já há forte sensibilização do setor financeiro e das grandes indústrias, no Brasil e no mundo; sobretudo quanto aos primeiros, que lideram as discussões da nova agenda climática ao modular corajosamente as regras de empréstimo que secam, a cada dia, o financiamento a empresas poluidoras, inviabilizando a continuidade desses negócios a longo prazo e disseminando boas práticas em cadeias de valor complexas, o que amplia o impacto positivo para toda a economia.
O Brasil dúvida pode ser a maior potência sustentável do mundo – uma grande oportunidade e talvez a mais viável da história. A concretização desta ambição dependerá de como iremos implantar a transição e desenvolver soluções adequadas para os novos tempos. Nossas empresas detêm a potencialidade de explorar essa agenda, que ajuda o planeta e busca lucro com propósito.
Para este desafio, é fundamental pensar sobre cultura. Precisamos moldar uma forma de pensar direcionada ao longo prazo e à responsabilidade com as próximas gerações. O melhor caminho para isso é o das artes, que provocam reflexões e instigam a criação de novas possibilidades. Sustentabilidade é um espaço de interseção entre ciência, eficiência e consciência.
Os desafios dos próximos anos são enormes e a força motriz da mudança para superá-los virá de um setor produtivo consciente, inspirado, sustentável, vanguardista e engajado com políticas públicas baseadas em evidências. O ativismo corporativo é a chave da mudança na década da ação.
Fábio Galindo é Conselheiro de Administração da Aegea e Águas do Rio. Foi promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais e Secretário de Estado de Segurança Pública do Estado de Mato Grosso.
Daniel Lança é Head de ESG do Instituto Inhotim, sócio da SG Compliance e professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC). É Mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Lisboa e especialista em Gestão de Riscos pela Universidade Harvard.