Vivien Munaro especialista em saude explica o que diferencia linhagem das demais cepas e se ela é mais transmissível e perigosa
A deltacron, a nova variante surgida a partir da fusão da delta e da ômicron, duas variantes de preocupação do SARS-CoV-2, surge em vários países em meio à liberação de medidas de proteção contra Covid-19. Apesar de parecer apenas mais uma variante do vírus original, ela se diferencia das demais por ser uma recombinação de outras duas variantes do vírus causador da doença e considerada rara justamente por isso, segundo os cientistas.
Porém, deltacron ou delta-ômicron não são nomes oficiais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a origem do que chama de “cepa recombinante” em 9/3 e diz que mais informações sobre a variante estão sendo pesquisadas pelos cientistas. Veja abaixo o que já se sabe sobre a cepa híbrida.
O que é a deltacron?
A variante delta-ômicron, ou deltacron, tem uma estrutura recombinante derivada das sublinhagens AY.4 (delta) e BA.1 (ômicron), ou seja, combina o material genético das duas cepas. Segundo os cientistas do Instituto Pasteur, da França, que descobriram essa linhagem, a deltacron tem o gene da proteína Spike, a espícula do vírus responsável por infectar as células, semelhante à ômicron e o “corpo” do vírus semelhante à delta.
Ainda de acordo com os pesquisadores, o vírus recombinante foi identificado em várias regiões da França pelo Consórcio de Emergência Europeu (Emergen) e vem circulando na Europa desde o início de janeiro de 2022. Genomas com um perfil semelhante foram também identificados na Dinamarca e na Holanda. Agora os cientistas tentam responder se esta recombinação deriva de um único ancestral comum ou se pode resultar da recombinação de outros vírus, já que viram estruturas diferentes da cepa híbrida encontrada em diferentes países.
“O que vimos na França e na Dinamarca/Holanda parecem super semelhantes e podem ser o mesmo recombinante (com os mesmos vírus parentais) que viajaram. Mas os possíveis recombinantes delta-ômicron relatados em países como o Reino Unido e Estados Unidos parecem combinar diferentes partes de seus vírus parentais e, portanto, diferem da deltacron vista na França”, disse o pesquisador Etienne Simon-Loriere, do Instituto Pasteur, ao The Guardian.
É mais transmissível?
Apesar de ser um híbrido entre delta e ômicron, duas variantes de preocupação (VOC, na sigla em inglês), consideradas mais transmissíveis do que as demais variantes do SARS-CoV-2, ainda faltam indícios de que a deltacron possa ser mais letal do que as demais VOCs, segundo cientistas.
Simon-Loriere, do Instituto Pasteur, disse em outra entrevista ao jornal The New York Times que, apesar de existir desde pelo menos janeiro, a nova cepa ainda não demonstrou capacidade de crescer exponencialmente – o que indica que ela não é tão ou mais transmissível do que a ômicron.
É uma variante perigosa?
Os cientistas do Instituto Pasteur suspeitam que sua semelhança com a ômicron pode indicar sua possível chance de causar menos doenças graves. Isso porque a ômicron se caracteriza por invadir com sucesso as células do nariz e das vias aéreas superiores, causando sintomas semelhantes ao da gripe, mas, por não conseguir o mesmo feito dentro dos pulmões, não causa a falta de ar e necessidade de intubação na maioria dos casos. Sendo assim, os cientistas acreditam que a nova cepa recombinante pode apresentar a mesma propensão.
A deltacron já circula no Brasil?
O Ministério da Saúde informou que estava investigando dois casos suspeitos da deltacron no país, um no Amapá e outro no Pará. Mas recentemente descartou o caso no Amapá e segue investigando o do outro estado do norte.