Estatais de combustíveis fósseis podem perder em conjunto até US$ 400 bi; países emergentes seriam mais afetados
POR: ClimaInfo
As empresas petrolíferas estatais podem jogar fora cerca de US$400 bilhões em investimentos nesta década. Só a Petrobrás pode ter entre 18% e 22% de seu investimento sob risco (de US$16 bilhões a US$20 bilhões) se os preços do petróleo caírem estruturalmente. Isso porque o prazo em que esses investimentos passariam a gerar lucro, dentro de uma década, coincidirá com o período no qual o mundo estará se afastando mais rapidamente dos combustíveis fósseis.
Essas informações são do estudo Aposta Arriscada (Risky Bet) divulgado esta semana pelo Natural Resource Governance Institute (NRGI). A organização estima que as empresas estatais de combustíveis fósseis planejam investir US$1,9 trilhão nos próximos 10 anos, mas cerca de 20% desse capital só recuperaria os custos de investimento se o preço do barril de petróleo ficar acima de US$ 40 durante toda a década.
O valor do barril de petróleo para que cada projeto pague o investimento feito e gere lucro varia em função do custo de operação. O estudo calcula que os projetos futuros da Petrobrás só se pagarão se o preço do barril não cair abaixo de US$30. Se os preços despencarem ao longo da década, um valor em investimentos equivalente a 5% do orçamento da União será perdido.
Em 2020, apenas por conta da pandemia do coronavírus, os preços despencaram abaixo de US$20. Apesar das recentes oscilações para cima, as perspectivas de longo prazo apontam para o derretimento dos preços, e mais analistas e empresas de energia veem o pico da demanda de petróleo sendo atingido mais cedo do que as previsões anteriores, que apontavam para os anos 2030.
O relatório afirma que os produtores do Oriente Médio, como a Arábia Saudita, seriam menos afetados, já que seus níveis de equilíbrio de preço são mais baixos. Mas os países africanos e latino-americanos, com operações de custo mais elevado, enfrentam riscos maiores, como a Pemex do México e a Sonangol de Angola, já sobrecarregadas por dívidas.
“Uma enorme quantidade de investimentos estatais em projetos petrolíferos provavelmente só produzirá retornos se o consumo global de petróleo for tão alto que o mundo exceda suas metas de emissão de carbono”, disse Patrick Heller, coautor do relatório Risky Bet da NRGI, em referência às metas estabelecidas no Acordo de Paris.
Grandes companhias petrolíferas como BP, Total e Royal Dutch Shell reduziram progressivamente suas estimativas de preço de petróleo a longo prazo para a faixa de US$50-60 por barril. Mas alguns analistas veem níveis ainda mais baixos, dependendo do ritmo da transição energética.
“Os gastos das empresas petrolíferas estatais são uma aposta altamente incerta”, diz David Manley, analista econômico sênior da NRGI e também coautor do relatório. Para ele, palpites errados podem “abrir o caminho para crises econômicas em todo o mundo emergente e em desenvolvimento e exigir futuros resgates que custarão caro à população.”
O impulso das petroleiras estatais para bombear mais petróleo já vinha proporcionando baixos retornos. Segundo o relatório, em média, apenas um dólar em cada quatro dólares de receita das estatais petroleiras é devolvido aos cofres dos governos.