Por Edson Violim
Muitas pessoas parecem ter impressão de viver uma nova Guerra Fria (1947-1989) no leste europeu, mais precisamente na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia. Conforme o viés de análise ora a Rússia é tratada como uma grande vilã que está acossando a pobre Ucrânia ou o raciocínio inverso, a Rússia está apenas se protegendo contra uma futura invasão. Destaca-se que as relações entre países são pautadas em sua grande totalidade por interesses que mudam ao longo do tempo, por exemplo, durante a Guerra Irã-Iraque (1980-1988) o Iraque foi apoiado pelos Estados Unidos, pois o grande inimigo dos norte-americanos era e ainda é o Irã, tal fato não impediu dentro de outras circunstâncias geoestratégicas, políticas e econômicas dos norte-americanos promoverem duas guerras contra o Iraque (Primeira Guerra do Golfo 1990-1991 e Segunda Guerra do Golfo 2003-2011) e depor Saddam Hussein.
A Rússia, a maior herdeira dos despojos da União Soviética (1922-1991) sofreu grandes perdas estratégicas, o fim do Pacto de Varsóvia (1955-1991), que foi uma aliança militar firmada entre a URSS-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e outros países de influência comunista, posteriormente a expansão da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte criada 1949) aproximando a aliança das fronteiras russas é provavelmente a melhor amostra desse retrocesso. Ao longo da década de 1990 a Rússia pouco pode fazer para barrar o aumento da OTAN (doze países ingressaram na aliança a partir de 1997), inclusive com a entrada de países que outrora faziam parte da URSS, com a ascensão ao poder do presidente da Rússia, Vladimir Vladimirovich Putin, tal situação começou a ser alterada.
Quando se analisa as alegações russas, o cerco da OTAN ao seu território, em um primeiro momento pode-se achá-las exageradas, porém, o histórico de invasões sofridas pelos russos refuta tal análise: Guerra Russo-Sueca (1788-1790), Guerra Russo-Francesa (1812), Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A Ucrânia tornou-se uma preocupação russa a partir da queda do presidente ucraniano Viktor Fédorovych Yanukóvytch deposto em 2014, após protestos contra a sua aproximação com a Rússia. No mesmo ano, como resposta estratégica os russos invadiram e anexaram a Criméia, além de apoiarem uma rebelião pró-russa em Donbass (formada pela subdivisão administrativa de Donetesk e Lugansk, localiza-se no Leste ucraniano).
Os problemas açodaram-se em dezembro de 2021 quando tropas russas (cerca de 100 mil homens) se posicionaram ao longo da fronteira ucraniana. Soma-se ao fato a pressão russa, com uma série de pretensões: a imposição de que a Ucrânia jamais faça parte da Otan, a saída de estruturas militares inseridas nos países do Leste Europeu após 1997 entre outras.
Tais demandas foram rejeitadas, como era de se esperar, pelos Estados Unidos (líder da Otan) e pela própria aliança. A situação agudizou-se com o fornecimento de armas para os ucranianos (feito pela Otan/EUA) e com o envio de tropas russas a países dentro da sua área de influência. O posicionamento europeu vive um impasse, a Alemanha por uma série de interesses econômicos não se interessa em agir contra a Rússia. Encontros diplomáticos estão ocorrendo, inclusive no Conselho de Segurança da ONU, onde EUA e Rússia trocaram acusações.
Até o presente momento a situação vive um impasse. No Brasil, como não bastasse a nossa tragédia pessoal, Covid-19, crise econômica, e tantos outros, está programada a ida do presidente Bolsonaro à Rússia entre os dias 14 e 17 de fevereiro.