POR: Vinicius Bacelar
Em tempos de crise, poucas pessoas têm coragem de apostar em algo novo e investir tempo, conhecimento e dinheiro numa ideia ousada. Mas a empresária guarulhense Maria Cristina Bernardo de Laet surpreendeu e inovou. Antiga sócia da Wow Burger e da Forneria Capannone, referência em massas artesanais, Cris, como é conhecida, resolveu trabalhar novamente com a culinária italiana, mas, desta vez, de uma maneira bastante diferente.
A obsessão pelos melhores ingredientes e o resgate à tradição criada pelas “nonnas” das famosas massas que compunham o cardápio do fino restaurante, agora, estão acessíveis em pequenas motos decoradas (parecem até um italianinho…) e equipadas com cozinhas compactas. O tamanho das cozinhas, inclusive, é o que dá nome ao projeto. “A Cucinetta – a motoneta do Italiano – surgiu depois que percebi que esse tipo de comércio ambulante fora do Brasil é uma realidade. Em Nova York, Paris ou Barcelona, as pessoas comem na rua e comem muito bem, além de ser algo sem frescura, à vontade. Pensei em trazer para Guarulhos, já que todo mundo gosta da culinária italiana e porque eu queria empreender algo novo e desafiador, que democratizasse a boa comida, com praticidade e preço super acessível”, explica Cris.
Mas, para começar a oferecer os tradicionais pratos nas motonetas, Cris precisou de um longo trabalho junto às autoridades competentes, já que as características do comércio ambulante normalmente estão ligadas à ideia de atividade individual, de pessoa física, e muitas vezes até de algo informal ou limitado, distante da realidade de uma empresa organizada e com potencial de escala.
“A legislação de comércio ambulante esbarra na de food trucks e pode ser um tanto vaga. Ficamos nada menos do que um ano e meio estudando e discutindo com setores competentes da Prefeitura para mostrarmos a compatibilidade da instalação de uma empresa para oferecer este tipo de distribuição”, lembra Cris.
Vencida a etapa legal, passou-se às discussões com a Vigilância Sanitária, pois os produtos são conservados refrigerados, utilizando uma técnica denominada “cook chill”, que garante o mais alto padrão de segurança dos alimentos. Tal técnica demanda investimentos em maquinário e consiste no ultra resfriamento do produto de forma que conserve suas propriedades, aroma e sabor.
“Após nos adequarmos a todas as normas da Vigilância, também sensibilizamos a concessionária de energia elétrica, pois as motonetas necessitam de pontos de luz para perfeito funcionamento de toda a operação, especialmente a refrigeração, já que durante toda a cadeia logística, o resfriamento é fundamental. Felizmente, todos esses players foram receptivos e trabalharam no sentido de viabilizar esta operação que, já de início, gerou mais de 60 empregos formais diretos. E temos certeza de que este número será rapidamente superado”, comemora a empreendedora.
Formato pode ser replicado por outras empresas
Uma vez que este caminho foi percorrido por Maria Cristina, e que as autoridades também tenham absorvido o conceito e formato, outras empresas do segmento podem se valer do exemplo para constituir negócios similares. “Para nós, da Cuccineta, seria uma alegria ver outros empreendedores iniciarem operações do tipo. Com os desafios da vida moderna, as pessoas não irão mais ao comércio; o comércio precisa “ir às pessoas”. Ficaria feliz de que o trabalho que tivemos para tornar esse projeto realidade fosse um estímulo a outros empreendedores. Bom para a cidade, que teria seus espaços ocupados de uma maneira positiva e contagiante, e também para os cidadãos, que teriam maior variedade de escolha e motivos para curtir sua cidade e gerar riqueza nela”, projeta.
Organização e limpeza
A chegada da Cucinetta, além de estabelecer um novo modelo de operação para o comércio ambulante na cidade, demonstra que esse setor pode funcionar muito bem, observando-se critérios de organização e limpeza tão comuns em empresas. Para se ter ideia, o funcionário que opera a motoneta não precisa se preocupar com a preparação diária do veículo. Há uma equipe e toda uma estrutura para que, quando o operador chegue no início do dia, tudo esteja pronto para começar o atendimento ao cliente. “Temos o galpão onde as motonetas passam por rígido controle de manutenção e limpeza. Da cozinha central, em Cumbica, e do entreposto, no Centro, as equipes de logística e coordenação controlam todo o processo de abastecimento e funcionamento das Cuccinetas”, detalha Cris.
Tecnologia orgulhosamente guarulhense
Se hoje é possível comer uma ótima massa em plena calçada e retirar seu pedido apenas 4 minutos após tê-lo feito, isso se deve à tecnologia desenvolvida por Cris e seu time, que aproveitaram recursos já existentes e os reuniram nesta solução inovadora. “Sou apaixonada por Guarulhos e estou especialmente feliz por poder viabilizar este projeto na cidade que eu escolhi. Gerar empregos aqui e proporcionar essa experiência aos clientes da cidade é uma realização para mim”, destaca Cris.
As massas servem bem àqueles consumidores que precisam se alimentar em centros urbanos, podem comer no próprio lugar de compra ou levarem para se alimentar em outro local. As refeições têm preço acessível: vão de R$ 9,99 a R$ 18,99. As porções têm 420 gramas. São 5 tipos de massas e 3 tipos de molhos. Há também os acompanhamentos: almondegas e Ciabatta (uma torradinha), além de azeite de manjericão e, claro, parmesão ralado.
Tudo no negócio é sustentável: as embalagens são todas biodegradáveis. O prato é feito de cana de açúcar e os talheres são feitos a partir de fibra de milho. A coleta de lixo é particular, e todo o resíduo produzido pela operação é recolhido e adequadamente destinado pela empresa contratada. Nada fica no local, na calçada ou na rua.
Há vagas!
Todos os postos de trabalho nas Cuccinetas são formais, no modelo CLT. E há vagas para operadores das motonetas. “Nós damos todo o treinamento para que nosso padrão de atendimento se mantenha. Também propiciamos o curso da Vigilância Sanitária, condição para que o profissional atue conosco”. Os interessados podem enviar currículo para rh@amorealdente.com.br.