POR: Henrique Castiglione
A capacitação das mulheres como investidoras é uma conquista, a meu ver, semelhante a entrada destas no mercado de trabalho. Interessadas e, por muitas vezes, com uma consciência maior a respeito de seu próprio perfil, quando comparadas com os homens, as mulheres conseguem lidar melhor com as flutuações do mercado e, consequentemente, aproveitam as oportunidades da melhor forma assim que aparecem.
Dentro do setor de investimentos, as mulheres podem ser classificadas como mais conservadoras. Parte desse conservadorismo, no entanto, vem de ainda estarmos conhecendo o mercado, de modo geral, mas acredito que, com o tempo, a tendência é termos cada vez mais mulheres investindo em ações e outros ativos de renda variável. Atividade esta que, por sua vez, representa um avanço significativo em termos de igualdade e autonomia.
Analisando pesquisas recentes do mercado, elas apontam que o número de mulheres com mais de 60 anos cresceu 50% nos últimos dois anos. Representando 45% do total de investidores dessa faixa etária. Para se ter uma ideia, considerando todas as faixas etárias, as mulheres representam 36% dos investidores no geral. Na Bolsa esse valor cai para 30%. O volume total sob custódia investido por mulheres também aumentou 30% nos últimos dois anos no Brasil.
O papel da educação financeira no Brasil
A educação é a maior ferramenta de transformação social, e é também o único caminho para que, não somente as mulheres, mas todo brasileiro possa conquistar sua independência financeira, especialmente nesse momento onde o País tem cada vez menos capacidade de oferecer aposentadoria e outros serviços básicos para a população, o conhecimento e o planejamento financeiro serão de vital importância para colocar o Brasil em outro patamar nos quesitos: crescimento e qualidade de vida.
Nos últimos anos, diversos players vêm investindo em educação financeira no Brasil, isso ajudou a democratizar o acesso a informações que antigamente era difícil encontrar.
Brasil X EUA: a cultura de investimentos no exterior
Nos Estados Unidos a cultura de investimento já é muito mais avançada. A população, de maneira geral, investe em ações já há muitas décadas e este é um dos motivos pelos quais o país tem instituições tão fortes: a liberdade e livre flutuação do capital das pessoas para as empresas e vice-versa. O mercado de capitais, de fato, serve a população em diversos aspectos.
Estudos afirmam que a longo prazo, as mulheres americanas acumulam mais retorno que os homens, e que juntam mais dinheiro para investir. O percentual por lá também é diferente dos brasileiros, o número de investidoras americanas chega a 41% do total.
No Brasil, além das barreiras que o governo impõe, também precisamos colocar na conta o “custo do banco”, uma vez que a maior parte das transações ainda passam pelos mesmos, aumentando o custo do dinheiro, por meio de taxas, serviços desalinhados e etc. Estamos no processo de amadurecimento do nosso mercado e com as pessoas cada vez mais educadas e atentas, devemos nos aproximar cada vez mais dos países mais desenvolvidos quando se trata de investimentos e planejamento financeiro.
Para finalizar, a capacitação das mulheres como investidoras é mais uma conquista, a meu ver, comparável a entrada das mulheres no mercado de trabalho no pós guerra, sem isso, jamais conseguiríamos atingir uma real igualdade de gêneros.
Henrique Castiglione é investidor, sócio e mentor na EWZ Capital.