POR: hochmuller_multimidia
Um estudo realizado pela Tendências Consultoria Integrada mostrou que, sem o auxílio emergencial, as classes D e E devem perder quase um quarto da renda disponível (23,8%) em relação ao ano de 2020. Dessa forma, serão R$ 48 bilhões a menos circulando entre os mais pobres.
O auxílio emergencial tem gerado um impasse no governo. O presidente Jair Bolsonaro disse na última segunda (8) estar negociando o tema com ministros. Enquanto isso, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou nesta terça-feira (9) que uma nova rodada de estímulo emergencial por parte do governo sem “contraparte”, ou seja, sem uma compensação com um corte de gastos ou alta de tributos, pode resultar em alta da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 2% ao ano.
Para compensar o fim do benefício, o governo estuda também a alternativa de criar o Benefício de Inclusão Produtiva pelos próximos três meses, com o valor de R$ 200 por mês, que deverá ser pago para até 30 milhões de pessoas que não tem carteira assinada e estão fora do Bolsa Família. Segundo o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o pagamento do auxílio pode ser feito de forma excepcional e temporária ainda que o Orçamento não seja aprovado.
Outra possibilidade que tem sido estudada, com o fim do auxílio, é a de aumentar temporariamente o valor médio de quem recebe o Bolsa Família, mas nenhuma decisão oficial foi divulgada até o momento.
O ministro da economia Paulo Guedes disse que há sim a possibilidade de renovação do benefício, mas garantiu que os cortes seriam feitos de outras despesas como forma de compensação sem furar o teto de gastos. Seria também, segundo ele, um gasto “mais focalizado” atendendo 32 milhões de pessoas em vez dos 64 milhões de beneficiados.
“A gente já gastou demais, a gente nesse momento já está no limite. Se a gente romper o teto de gastos por alguma decisão da União com o Senado, o mercado ia olhar com nariz torto. Isso deixaria o país mais endividado e isso poderia trazer uma taxa de juros mais alta, pressão inflacionária e o dólar subindo. Isso é o que ocorre quando o governo é irresponsável com os gastos”, afirma João Beck, economista e sócio da BRA.
Mas, segundo o especialista, a prorrogação não seria um problema se o teto não for ultrapassado. Ele destaca que o governo tem indicado essa preocupação e que, se for prorrogado, os recursos do auxílio seriam remanejados de outras áreas. Isso traz uma maior tranquilidade para o mercado.
“Se tiver esse corte de gastos em outras áreas para estender o auxílio, acredito que é um efeito que pode ser nem bom nem ruim. Pode ser bom quando o mercado avaliar que aquela área de gastos que vai ser cortada era desnecessária, mas é difícil saber porque o governo ainda não divulgou nada oficial”, declara.
A extensão do auxílio, segundo Beck, também pode impactar na alta dos preços dos alimentos. Uma pesquisa realizada pelo Banco Central mostrou que o benefício elevou os preços da cesta de alimentos de quem ganha entre um e três salários mínimos. O estudo mostrou ainda que a inflação das famílias com renda mais baixa é maior não só porque essas famílias destinam maior fatia da sua renda na compra de alimentos, mas também porque os produtos que elas consomem apresentaram maior elevação de preços.
“Pode ter outras coisas que façam um efeito contrário, mas, olhando de forma isolada, o auxílio aumenta o preço dos alimentos. Você aumenta a demanda por alimentos e bens de serviços, produtos ligados ao consumo”, explica.
Sobre: João Beck é especialista em investimentos e um dos sócios da BRA, um dos maiores escritórios credenciados da XP, com mais de 15 mil clientes e cerca de R$ 2,5 bilhões de ativos sob custódia com escritórios no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo. Graduado em economia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, começou a carreira com vivência em bancos como Itaú, Bradesco e HSBC, instituição da qual saiu para começar uma carreira mais focada em investimentos. Em 2008, perdeu R$ 1 milhão que havia investido, e, quando trabalhou na Icap, maior corretora do mundo, chegou a morar na favela da Gardênia Azul, no Rio de Janeiro. Passou por corretoras como Ágora, Gradual Investimentos, TOV até chegar na XP Investimentos, onde atuou antes de se tornar sócio do escritório de investimentos BRA. Hoje, ultrapassou o valor perdido em 2008, se tornou empreendedor e é referência no mercado de investimentos.