
Segundo a mentora e estrategista comportamental Raquel Coutto, a maioria das pessoas não sabe direito o que deseja alcançar em sua vida, o que torna muito mais complicado a mudança, levando, não raramente, a um quadro de inação e estagnação
Há uma expressão amplamente difundida na cultura brasileira de que o país só começa a funcionar depois do Carnaval. Se isso é verdade, aqueles que ainda planejam mudanças em suas vidas, visando a um ano mais próspero, possuem diante de si uma boa notícia, haja visto que a folia esse ano começa mais tarde, em março. Ou seja, ainda há cerca de 20 dias para estabelecer prioridades, definir metas e objetivos e montar um plano de ação. De acordo com a treinadora, mentora e estrategista comportamental, Raquel Coutto, contudo, o que parece fácil na teoria, mostra-se muito complicado na prática.
Isso porque, destaca a estrategista comportamental, a maioria das pessoas apresenta muita dificuldade em estabelecer, com clareza, as metas que deseja alcançar em um horizonte de curto, médio ou longo prazo. “Durante minhas mentorias, quando questiono um mentorado sobre qual resultado quer atingir nos próximos cinco anos, costumo ver um ponto de interrogação surgir em seu rosto. A realidade é que grande parte dos indivíduos apresenta sérias dificuldades em delinear e, portanto, expressar aquilo que realmente deseja”, afirma.
De acordo com Raquel, um comportamento recorrente das pessoas diante do questionamento sobre quais são suas metas é responder com uma sentença negativa. Por exemplo: “Não quero fazer isso de jeito nenhum no futuro”. Esse tipo de resposta, segundo a mentora, enseja dois tipos de problemas. “Do ponto de vista da programação neurolinguística (PNL), quando começamos uma sentença com não, tendemos a reforçar o comportamento que, de fato, queremos eliminar”, explica. Além disso, ressalta a treinadora comportamental, ao só saberem dizer o que não querem, eles demonstram não enxergar com objetividade o resultado que sonham atingir. “Se não se tem clareza sobre o presente e não se consegue projetar o futuro, fica muito mais complicado direcionar a mente para ação assertiva”, explica.
Como resultado dessa falta de clareza sobre anseios e desejos, tem-se a inação e perda de autonomia sobre os próprios atos. “No que diz respeito à carreira, por exemplo, se o profissional não sabe claramente onde deseja chegar, ele acaba ficando na mesmíssima função e permite que a empresa o direcione de acordo com os interesses dela exclusivamente”, afirma.
Aqui, a especialista acredita ser importante ressaltar que de nada adianta apenas pensar acerca das metas que deseja atingir. Segundo Raquel, o plano será em vão sem integrar o pensamento ao sentir e ao agir, pois é só dessa forma que os objetivos realmente se tornam palpáveis. “Perde-se a chance de tomar as rédeas do próprio desejo quando a mentalidade não evolui a ponto de integrar as emoções e as ações adequadas”, explica.
Ao mesmo tempo, pondera a mentora, a falta de clareza sobre as metas fragiliza a integração da mente com o sentir e o fazer, o que, não raramente, leva a problemas psicoemocionais, como o transtorno de ansiedade, que, por sua vez, reforça a inação. “Pessoas ansiosas vivem projetando dificuldades mais do que soluções. Um dos resultados dessa preocupação excessiva e generalizada é bloquear a mente para agir”, diz. O medo de se arriscar, antevendo um desfecho doloroso acaba por levar à estagnação e por conseguinte à insatisfação consigo próprio, complementa Raquel. Assim, enfatiza a treinadora, o movimento em direção aos objetivos é fundamental, mas não só, sendo preciso fazê-lo com estratégia.
Para se ter mais clareza de onde se quer chegar, a mentora recomenda olhar para o passado o tempo suficiente (cerca de 8%) para saber o que se quer no futuro. “Olhar para o passado tem apenas duas utilidades: mostrar o que se fez de errado e não se quer mais repetir, extraindo lições para seguir em frente; e mostrar o que se fez de bom, ações a serem reforçadas”, diz. Conforme Raquel, o foco do indivíduo deve-se deter no presente (mais de 80%do tempo), que é onde ele pode atuar, e no futuro (11% do tempo), porque é a partir dessa projeção que a pessoa torna mais real suas metas. “Enxergando com mais exatidão como e onde quer estar nos próximo dois, cinco, dez anos, a pessoa consegue direcionar a mente, o sentimento e ação para chegar aonde deseja”, conclui.