
Por Francisco Pereira, CEO da Trademaster*
A digitalização da indústria não se restringe mais às linhas de produção. A integração entre tecnologia financeira e processos industriais redefine modelos de negócio, tornando operações mais eficientes e conectadas. Fintechs desempenham um papel central nesse avanço, promovendo inovação na gestão de fluxos financeiros, automação de pagamentos e inteligência na concessão de crédito para cadeias de suprimentos.
O setor industrial enfrenta desafios crescentes para manter competitividade em um cenário de margens reduzidas, ciclos financeiros complexos e regulação rigorosa. A parceria com fintechs não apenas moderniza a estrutura financeira das indústrias, mas também permite previsibilidade e controle sobre variáveis críticas, como fluxo de caixa e financiamento de capital de giro. O mercado global de fintechs, que movimentou US$ 79,38 bilhões em 2023, projeta crescimento para US$ 141,18 bilhões até 2028, refletindo o apetite por inovação nesse setor.
A inteligência artificial (IA) já impacta diretamente a eficiência industrial. Estudos da McKinsey indicam ganhos operacionais de até 40% com a adoção de IA em processos financeiros e comerciais. Algoritmos de machine learning permitem antecipação de demanda, otimização de estoques e automação de decisões de crédito, reduzindo o tempo de resposta das indústrias a variações do mercado.
Soluções de pagamentos digitais aceleram transações e aumentam a segurança das operações comerciais. A tokenização e o blockchain garantem rastreabilidade e mitigam riscos de fraudes, enquanto modelos Buy Now, Pay Later (BNPL) adaptados ao B2B otimizam a liquidez e flexibilizam condições de pagamento para fornecedores e distribuidores.
A automação financeira elimina ineficiências em áreas como contabilidade, conciliação bancária e tesouraria. A integração de sistemas ERP a soluções de fintechs permite processos mais ágeis e redução de custos administrativos. A transformação digital aplicada ao financeiro da indústria reduz tempos de ciclo e melhora a previsibilidade de caixa, fator crítico para um setor que depende de planejamento minucioso de capital.
O crédito baseado em análise de dados também redefine o financiamento industrial. Modelos preditivos permitem concessão de crédito mais ágil e alinhada às necessidades operacionais, reduzindo a dependência de financiamento bancário tradicional. Para indústrias sujeitas a sazonalidades e flutuações de demanda, fintechs representam uma alternativa flexível e eficiente para a gestão de capital de giro.
No entanto, a adoção dessas tecnologias enfrenta desafios, especialmente em empresas que ainda operam com sistemas legados. A modernização exige integração cuidadosa entre infraestrutura financeira e processos internos. Além disso, a capacitação de equipes é essencial para maximizar o uso das ferramentas disponíveis, garantindo uma transição eficiente para um modelo mais digital e automatizado.
Regulação e compliance também precisam ser considerados. Setores altamente normatizados devem garantir que suas operações financeiras digitais atendam às exigências legais, o que demanda soluções robustas de RegTech e monitoramento automatizado. Fintechs que oferecem soluções plug-and-play, compatíveis com frameworks regulatórios, agregam valor significativo às indústrias.
A colaboração entre fintechs e indústria ainda está em estágio inicial, mas sua evolução será determinante para o futuro da transformação digital. Empresas que souberem explorar o potencial dessas parcerias ganharão eficiência, previsibilidade financeira e maior resiliência frente a oscilações do mercado global. O caminho para a digitalização da indústria passa necessariamente pela inovação financeira e as fintechs estão no centro desse processo.
*Especialista em soluções de crédito para as pequenas e médias empresas, Francisco Pereira é formado em Administração pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e atua como CEO da Trademaster, fintech que potencializa as vendas de grandes indústrias e distribuidores ao varejo.