Há algum tempo, as mini misses fazem sucesso no Brasil. Não se sabe ao certo quando surgiu o primeiro concurso, mas o fato é que depois daquele domingo de 2008 em que uma pequena e tímida gaúcha, surgiu ao lado do apresentador Gugu no Domingo Legal do SBT, despertou uma certa curiosidade, interesse ou mesmo indignação por parte dos brasileiros.
E mesmo que muitas pessoas critiquem o fato de meninas de 05 a 12 anos desfilarem maquiadas e com trajes de gala, é inegável a movimentação econômica gerada através dos eventos de mini miss. Seja pela organização dos eventos, ou pelas candidatas participantes, em uma conta rápida, levando em conta o número de estados brasileiros, pode-se dizer que todos os anos, centenas de meninas almejam a tão disputada faixa de miss.
Afinal, quanto custa participar de um concurso de miss? Quantos profissionais são envolvidos em um evento? Vale a pena?
Conversamos com alguns expoentes desse mercado para saber mais a respeito.
A REFERÊNCIA DE TODAS ELAS
Se dependesse de etapa gaúcha de um concurso, Natalia Stangherlin, não teria surgido e se tornado lenda no universo das mini misses. “Ela participou de um concurso representando Santa Maria, nossa cidade natal, mas acabou em segundo lugar. Como temos residência também em Santa Catarina, ela acabou vencendo a etapa regional e ao final derrotando a candidata gaúcha, a mesma que a desclassificou”, afirma Daniela Amaral, mãe de Natalia.
Daniela não consegue contabilizar o quanto foi gasto na época com os concursos de sua filha, mas afirma que o valor supera o de um carro popular. “Eram várias pessoas envolvidas. Eu fazia questão de viajar com uma comitiva, no Brasil ou fora dele”, referindo-se às duas vezes em que Natalia representou o Brasil no Little Miss World no Equador, e venceu.
Após o primeiro título internacional, Natalia começou a ganhar notoriedade, aparecendo na mídia e estampando publicidades até para a Disney. “Numa época em que não se existia a força das redes sociais, a Natalia conquistou um espaço que nenhuma outra miss infantil havia tido, e fez com que muita gente se interessasse ainda mais pelos concursos de beleza”, finaliza Dani.
CONCURSO NA DISNEY DE PARIS
E assim como sua conterrânea, a gaúcha Pietra Gasparin, também tinha o sonho de participar de um grande concurso internacional. “Infelizmente com os padrões estéticos impostos até para as crianças, vi que seria uma tarefa árdua inseri-la em algum concurso sério e de credibilidade’, afirma Claudia Gasparin, mãe de Petra. Eis que, através de uma promotora de eventos brasileira, soube da existência de um concurso realizado na Euro Disney, mais precisamente nas dependências de um dos hotéis do parque. “Foi uma época em que a França havia proibido os concursos de beleza infantil, só que havia esse concurso que estava autorizado, justamente por ser proibido utilizar artifícios de uma mulher nas crianças, como sapatos de salto ou excesso de maquiagem. Optamos por ele!’, afirma Claudia, que na mesma semana foi convidada pelo Programa Encontro de Fatima Bernardes, sobre uma pauta de beleza natural para criança.
Embora não mensure valores, Pietra Gasparin também viajou a Paris juntamente com uma equipe composta por assessor, tradutor, coordenador, sem contar com seus familiares e todos os trajes necessários para suas apresentações no evento.
RIFA E BUSCA POR APOIO POLITICO
Diferentemente de suas antecessoras, a maranhense Sophia Diniz, ainda sonha com sua gloria fora do país. Participante de concursos desde os 09 anos de idade, se tornou mini miss Brasil 2019, mas por conta da pandemia, não pôde representar o Brasil na etapa internacional do evento, que aconteceria no ano seguinte.
Como não possui recursos financeiros suficientes para tal, a mãe de Sophia usa de muita criatividade para que tudo dê certo. “Fazemos rifas, sorteios e vaquinhas. Também criamos projetos buscando apoio e patrocínio de comerciantes locais e da classe política, afinal de contas, nossa pequena Sophia estaria levando o nome do Maranhão para fora do Brasil’, avalia Flor, mãe de Sophia.
POR TRÁS DOS EVENTOS
A empresária Sandra Ávila é uma das principais produtoras de concursos de beleza do país, e seu evento, realizado em Santa Maria/RS, costuma ser muito disputado.
Em um período normal (fora de pandemia) sua equipe é formada por 10 pessoas, chegando a 50 empregos indiretos, na época dos eventos. “São muitos profissionais envolvidos, mas no final, dá muito orgulho de ver o show acontecer”, ressalta a empresária.
Embora as mães de Natalia, Pietra e Sophia não tenham dado um valor exato, o investimento por parte das candidatas costuma ser alto e muda conforme a etapa do concurso. “Falando em Embaixatriz do Turismo/RS, uma candidata pode gastar entre três a cinco mil reais. Em uma etapa internacional o valor pode ultrapassar facilmente os 15 mil reais”, afirma Sandra, referindo-se aos valores como taxa de inscrição, trajes, profissionais envolvidos, e custeio das viagens, que na maioria das vezes é de responsabilidade da participante.
Uma opinião unânime entre elas é que, embora movimentem muito a economia do país, os concursos de beleza infantil precisam se atualizar.
‘Eles já foram melhores. Há um ‘mercado’ por trás desse segmento que têm condição de reformular do formato que anda meio ultrapassado. Buscar algo além de enaltecer a parte física das meninas e desmistificar assim o eterno rótulo de meninas fúteis”, finaliza Daniela Amaral.
“Os concursos favorecem a economia, o turismo e às relações internacionais porque envolve um celeiro de profissionais. Eu acho que eles podem incentivar o mercado de vários segmentos, não ficar restrito apenas ao universo da beleza”, dispara Claudia.